Criar: vida longa ao amor

Estou em direção à igreja matriz. Mais alguns passos e estarei bem próximo de um monumento arquitetônico referência ao mundo. Cheguei. Um pouco cansado pela subida que alimenta esse caminho, talvez seja parte da penitência imposta pelos homens que comandam a fé.

Na praça a imponência das árvores centenárias, alimentadas pela chama da preservação. Propícia para esses dias de muito calor. Mas um verde para se conservar, dando margens ao progresso de nossa educação ambiental.

Em um dos bancos da praça estão sentados um casal de jovens, o garoto ainda cheira leite, mas a garota desponta com o corpo de mulher, entretanto não lhe daria catorze anos. O diálogo parece estar monótono, sem a expressão que lhe seria peculiar, alimentado pelo doce e progressivo sabor das palavras balbuciadas pelo conquistador. Na face feminina o doce olhar de contemplação, parecendo deliciar-se com os poucos e insuficientes vocábulos expressos pelo garoto. Ela o olha como que pela primeira vez, encantada. Pronta para se entregar de corpo e alma a esse amor que a alucina. Passo de vagar, presto atenção nos poucos dizeres dispostos pelo aprendiz de galanteador e depois disso não me calo internamente. Sinto que aquele não é o homem ideal para aquele menina, deve deixá-lo imediatamente. Há homens demais no mundo, mas poucos são capazes de conquistar uma mulher com a beleza, profundidade e sinceridade das palavras. Ele executa o pedido a garota, pede que ela prove o seu amor por ele. A garota, em sua sinceridade alimentada pelo gosto e entorpecimento da paixão, afirma que o ama. Ele diz que é pouco, não basta. Nos seus pedidos, encontra-se latente suas fantasias, secretas, que poderão se transformarem em verdade. Para ela o amor é tudo. Começa a chorar. Ameaça cometer o suicídio caso ele a deixe. Caminho para o meu destino e noto o poder que a criação possui quando não muito bem administrada.

Para alguns as idéias se misturam, confundem-se com os sentimentos e produzem tentativas infelizes de criação: nasce desta insatisfação o choro, o desespero, o sentimento de inferioridade, o desprezo para consigo, chegando ao bradar de um suicídio. A vida nos reserva muitas surpresas, e para esta garota e este menino o caminho é longo, ao menos que criem em suas imaginações o cenário do amor eterno, transformado em tragédia através do suicídio. Mas não serão capazes, pois Romeu e Julieta não fazem parte do seu vocabulário. Não leram Shakeaspere, mas se defrontarão com esse monstro da criação. Aliás, aproveitei-me desse fato do cotidiano e rabisquei minha própria criação. Para o casal de jovens: vida longo ao amor!

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 30/03/2007
Código do texto: T431658
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