Diário de Sonhos - #024: Chapéu em Chamas
Uma das coisas que eu mais gosto de usar é chapéu. Enquanto as pessoas na rua usam shorts, saias e camisetas, eu gosto de calça preta, camisa preta e sapato, tudo isso coroado por um lindo chapéu estilo "gangster de Chicago. Não pra me destacar (embora isso seja inevitável). Sou um romântico preso no passado. As coisas que passaram, que foram, me parecem ter um quê de beleza e nostálgico que as de hoje não têm. Gosto de me sentir fora de época, fora do eixo. E um chapéu me trás essa sensação.
Eu sonhei...
Sonhei que estava no centro de São Paulo, passeando. Era noite e eu estava acompanhado pelo meu amigo Caeh. Fazia frio e nevava. Acho que era Natal, pois havia muitos enfeites e coisas do tipo na rua. Eu usava calça, camisa, sobretudo, sapato e chapéu. Não lembro o que o Caeh vestia. Não sei bem o que aconteceu e algumas moças pegaram meu chapéu e ficaram brincando de jogar uma pra outra enquanto eu tentava recuperá-lo, em vão. Já perdia a paciência quando meu amigo saltou no ar e o apanhou. Ele jogou pra me devolver, mas o chapéu voou muito alto, pegou fogo e caiu pra lá do viaduto. Fiquei irritado, gritei e xinguei. Puxei a carteira do bolso dele e tirei uma nota de cinquenta reais. Fui até a minha loja de chapéus favorita, a El Sombrero. Entrei num corredor com vários caminhos. Não sabia qual segui e me perdi. Uma secretária disse pra mim descer as escadas. Finalmente cheguei à loja numa esquina do Largo São Bento. Queria o mesmíssimo chapéu, vasculhei as vitrines mas não achava. Uma moça veio até mim. Pra mim surpresa, eu só conseguia falar em inglês e ela não me entendia, porque falava português. Tentei usar palavras de fácil entendimento, fazendo mímica pra ela entender. Depois de certo esforço acho que ela me entendeu e mostrou alguns modelos, mas nenhum era o que eu queria. Lembro de um em especial, coberto de diamantes e vários outros balangandãs brilhantes que eu odiei. Ao final constatamos que ali não tinha o que eu queria porque era uma loja feminina. Ela me levou até o setor masculino onde me apresentou a um vendedor, este sim falava inglês. Disse o que queria e o tamanho e ele foi buscar. Enquanto esperava olhei a loja. Havia um pequeno grupo de sambistas muito velhos usando roupas coloridas e brilhantes. Eles procuravam chapéus pra ir pular o carnaval.
Aí eu acordei.
Vinte e nove de maio de dois mil e treze.