Milena
Milena era uma menina linda, cabelos longos, cacheados e ruivos, olhos verdes, pele branca, uma moça bem arrumada e com algumas tatuagens retratando fases de sua vida e de sua personalidade, algumas de suas tatuagens já não representavam mais seus pensamentos atuais, Milena via aquelas tatuagens como sua história pintada no corpo, é como se seu corpo fosse um livro apenas com figuras.
Milena era uma garota estudada, inglês fluente, faculdade patrocinada pelo pai, alguns cursos a mais para deixar o curriculum bonito, enfim, o tipo de mulher que alguns chamariam de perfeita e que nenhuma empresa pensaria duas vezes antes de contratar.
Apesar de todo esse estudo, Milena sonhava mesmo em conhecer o mundo, parecia que São Paulo era pequena demais pra ela, vez ou outra Milena vagava pela Paulista, Augusta, Consolação e até mesmo Oscar Freire para comprar alguns sapatos elegantes, afinal, trabalhando em escritório o salto alto deve sempre estar presente, mas nada disso a atraia mais, uma cidade cheia de arranha céu não era onde Milena gostaria de passar o resto de sua vida, um salto alto não era mais o que ela queria para seus pés, Milena queria mesmo era calçar um bom tênis, colocar uma mochila nas costas e ir embora, ir embora para lugar nenhum, sair sem destino, ir ganhando a vida sem saber o dia de amanhã.
No fundo, Milena queria mesmo era ser pintora, adorava desenhar coisas psicodélicas, cheias de cor, desenhos abstratos, de mulheres nuas e tatuadas ou até mesmo paisagens que via em sonhos, sonhos estes que às vezes Milena não queria acordar. O quarto de Milena tinha todas as paredes pintadas por ela, assim como alguns quadros e poemas de sua autoria, era lindo, era realmente lindo, os poucos que entravam ali sentiam-se em um mundo paralelo ao nosso.
Milena não cabia dentro de si, eufórica, menina moleca, Milena gostava de beber, dançar, jogar os cabelos vermelhos para os lados, acordar de ressaca e colocar um óculos escuro gi-gan-te para fingir que nada havia acontecido na noite passada.
Algumas vezes Milena escrevia cartas de despedidas para a família e os amigos, fazia a mala, mas na última hora perdia a coragem de ir embora, dentro dela alguma coisa a fazia se sentir covarde e mandava-a ficar.
Mas como continuar vivendo em um mundo que não foi feito pra mim? – Pensava Milena.
Às vezes o mundo realmente parece pequeno demais para nós é acabamos deixando alguns objetivos de lado para se encaixar em padrões “aceitáveis”, e assim se sentia Milena.
Milena lutou e relutou, tentou encarar a vida “formal” com um salto alto no pé, um terninho sem graça e uma xícara de café entre um cigarro e outro.
Milena tentou, só Deus sabe o quanto ela tentou, até que em um domingo a noite, seu pai entra no seu quarto e encontra um bilhete escrito “papai, criei asas e voei, com amor, Mi.”
Seu pai então olhou ao redor e viu o quarto de Milena intocável, suas roupas estavam todas ali, sua mochila também, dinheiro e documentos estavam em cima da escrivaninha, o pai então entrou em desespero, anos se passaram e não descobriram até hoje o tipo de voo que Milena levantou, não se sabe se ela foi descobrir o mundo ou outra vida, apenas se sabe que independente do que foi feito, Milena se libertou.
Alguém viu Milena por ai?