- Quase Isso
Poesia alheia não conforta meu coração. Aquele sorriso que abraça o mundo é de outro, o meu abraça o travesseiro e conta segredos repetidos.
Se toda história se repete é porque a gente vive num mesmo livro; me encontro no terceiro capitulo. E provavelmente é nesse terceiro capítulo que minha história acaba, qualquer leitor teria que repetir a mesma leitura, e então: a história se repete.
Se pudesse reescrever -ou brigar com quem escreveu- minha história rabiscaria mais cinco folhas e mudaria a introdução e o final. O meio distorceria o resto e tudo pareceria diferente. O segredo está no meio, porque o começo é desconfiança e o fim é satisfação - ou não - mas é o meio que vai poder escrever se valeu ou foi perda de tempo e de café. Se mereceu a poesia, se valeu o verso logo ao amanhecer.
A introdução desconfia; porque é novo. Porque tem que começar tudo de uma maneira sutil e leve: feito valsa. Anda em passos mansos, e fala com voz baixinha para não acordar o outro ou para não acordar a si mesmo.
Introdução é passo curto, é vontade calada e ao mesmo tempo apressada, introdução é difícil porque uma escrita depende da outra, as mãos têm que trabalhar em conjunto, daí aparece as incoerências. Isso vai indicar se a história terá meio ou um tipo desajustado de final.
Final é qualquer ponto, qualquer adeus ou até breve. Pode ser curto até amanhã, ou longo; até nunca mais. Pode ser só um rabisco acompanhando uma série de dizeres que dispensa atenção. Também pode ser despedida poética, abraço demorado e saudade que se despede todo dia com vontade de ficar.
O meio até para se explicar é complicado. Não se critica o fim, critica-se o meio, porque inevitavelmente é ele quem determina se o final vai ser poético ou depressivo. A emoção está em deixar tudo se desenhar pelas linhas que povoa o meio, está em saber que a parte mais bonita de um texto se encontra entre o começo e o fim, ou aquelas reticências bonitas para completar mais e mais.
Só não sabe escrever um meio quem não soube deixar os versos beijarem a introdução. E o fim é espera.