Vida de cão
Ponho o relógio para despertar às cinco horas e trinta minutos.
Passa da meia noite e eu me deito com a intenção de cair, já dormindo, na cama – não preciso sonhar, quero mesmo é dormir, integralmente o tempo que tenho.
No meio da noite acordo suado – não fez o frio que eu esperava. Pego o celular pra confirmar o horário – três horas e cinquenta minutos.
Fiquei bem quieto tentando emendar o sono, foi quando Lola – minha pequena cadelinha com cerca de quinze quilos, resolve caçar um mosquito que passou a lhe incomodar. Eu já havia observado a presença desse invasor e fiz lhe vistas grossas. Não seria só aquele pequeno inseto que atrapalharia minha curta noite de sono.
Mas Lola, essa sim fez a diferença. Mimada como é, teve na minha mulher que dormia, ou fingia dormir, uma defensora. E eu ouvi quando ela disse com os lábios semiabertos: Mata esse mosquito para não incomodar a pobrezinha!
Sem retrucar, levantei, arregalei bem os olhos e com um matador-de-moscas em riste sai à cata do monstro voador que, como sempre, tem o dom de ficar, além de mudo, invisível quando acendemos a luz. Dei umas investidas pra cá e pra lá, e mesmo não o encontrando, deitei-me logo. O sono é maior que tudo. Em breve estaremos todos dormindo com os anjos – pensei.
Ilusão a minha. Lola, no escuro, saltava de um lado para outro, por cima da cama, pisoteando quem estivesse em seu caminho – ou seja, em mim – tentando inutilmente senão aniquilar o mosquito, fugir dele. Ela tem “medo”.
Não consegui ficar insensível ao seu estado de pânico. Vendo aquela situação novamente levantei-me, e agora completamente acordado; com olhos de lince ou Linceu, mais a tradicional arma na mão – mesmo sem a licença das moscas - arrisquei-me nos mais íngremes lugares, sob o olhar atento e confiante da Lola enquanto minha mulher dormia.
Com larga vitória no jogo de esconde-esconde em favor do mosquito, novamente desisti. Desculpei-me com Lola e fui dormir. Em instantes estaria pegando a estrada e portanto, precisava estar descansado.
Assim foi. Não como planejei é claro. Não consegui dormir. O mosquito cantarolou enquanto quis “para sua alegria” e para o desespero da Lola que, muito mais disposta a fugir, procurava se esconder debaixo de algum móvel e de qualquer peça da casa que lhe parecesse mais segura.
Enfim, o relógio despertou. Desliguei-o e reparei que havia um silêncio que me convidava a permanecer na cama.
Sabia, no entanto, que não era possível. Sai da cama, olhei para os lados e vi que minha mulher ainda dormia. Atrás do Box do banheiro estava Lola, enroscada que nem minhoca e, devido ao frio que sentia, ao primeiro chamado pulou para a cama para continuar dormindo. Só não vi o desgramado do mosquito que por certo, agora com a viola no saco, também devia estar dormindo.
Menos eu.