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CARGA EXPLOSIVA
Ysolda Cabral
 
 
 
Sempre gostei de dirigir e nunca esquentei no trânsito por mais que ele estivesse lento e complicado. No entanto, ultimamente, não estou tendo paciência de fazer um percurso de, no máximo vinte minutos, em quase duas horas. Para minimizar a questão, sempre que é possível,  pego carona com minha filha no trajeto, casa x trabalho, e, para a volta, uso o transporte público, mais especificamente o metrô e em trinta minutos estou em casa.
 
O inconveniente é que o transporte público no Recife deixa muito a desejar. Sem falar que a quantidade de ônibus e trens é insuficiente para atender a demanda e as condições de manutenção desses transportes,  nos fazem relutantes e temerosos em usá-los.
 
Mas, enfim... Ontem, chovia, quando, por volta das 17h. peguei um ônibus para fazer o percurso Agamenon Magalhães x Estação do Metrô Joana Bezerra. Dentro do ônibus, (sem ar-condicionado) janelas fechadas, em função da chuva, pessoas de todas as idades e condição social, transpiravam horrores, sem muita resignação. Pairava no ar um clima de indignação, exasperação, impaciência, cansaço... Fiquei atenta para não entrar no clima. Em dez minutos chegamos ao destino e pra nossa sorte o metrô já estava na estação. Entretanto, com um número significativo de passageiros já embarcados.
 
Pra variar, a central de ar-condicionado estava com defeito. Fazer o quê a essas alturas?  Empurra dali, empurra de cá, ajeita aqui e ajeita acolá, coubemos todos, bem unidinhos, e,  o trem parte com sua ‘’carga explosiva. ’’
 
De repente, na primeira curva, uma moça, a qual se encontrava a minha direita e atrás de uma garota enorme, que parecia um paredão, a qual tinha a sua frente um rapaz, quase encostado numa das portas de saída;  grita alto e em bom som:
 
 - SEGURA ELE, LILI!!!!!  Lili (o paredão) do canto não se mexeu. O rapaz sorriu amarelo, se segurou do jeito que pode. Seguimos viagem. O clima estava tenso, pesado... O bicho ia pegar... Senti de cara. Precisava fazer alguma coisa...
 
Logo a seguir, outra curva...
 
- SEGURARAAA ELEEEEE, LILIIIIIII!!!!
 
Perdi a paciência e olhando para o alto do paredão me ouvi falar e todo mundo ouviu:
 
- Ô Lili, segura ele e acaba com essa aflição, menina!
 
- Que coisa!  O que é que custa?
 
Aí escutei o coro, o qual me pareceu uma benção: SEGURA LILI, SEGURA LILI, SEGURA!!!
 
Tinha chegado minha estação. Desembarquei ao som da risada agradecida de todos que ali seguiram viagem.
 
Que coisa danada de boa, quando a gente consegue provocar um sorriso nas pessoas!
 
Eu fico muito feliz!