Um ônibus atrasado na Avenida da Universidade

Quando um dia começa ou termina? Ele começa à meia-noite ou quando acordamos? Ele termina quando voltamos pra casa ou quando o relógio está prestes a marcar meia noite?

Num ponto de ônibus na avenida da universidade, algumas pessoas esperam o ônibus, o dia está começando ali para a maioria delas, algumas estão indo trabalhar, outras estão indo estudar, algumas poucas estão voltando para casa depois de uma noite de trabalho, para elas aquele momento é o fim do dia anterior.

Naquele ponto de ônibus, uma mulher de calça jeans e blusa roxa segura a mão de uma garotinha de uns 10 anos, talvez sua filha, a mulher olha para o relógio de pulso e logo em seguida para a esquina da avenida. Onde está o ônibus que já deveria ter passado por ali? O dia precisa começar, a vida tem que seguir seu curso, mas o ônibus atrasado é como uma rocha que atrasa todo o percurso de um rio e impede que siga livremente por onde deveria, mas a mulher de blusa roxa e calça jeans não pode contornar aquele problema, ela precisa da pedra, precisa do ônibus.

O ônibus finalmente chega e a mulher puxa a garotinha para dentro dele em meio ao pequeno aglomerado de pessoas que também esperavam por aquele mesmo ônibus. A mulher senta próximo à janela com a menina no colo, sempre segurando sua mão, o dia está começando. Ao lado dela, um senhor de paletó e cabelos brancos contempla o nada com o olhar perdido, talvez pensando na vida, no seu início, no seu fim. Quem dera a vida fosse com um dia e pudéssemos saber quando ela vai terminar, porque naquele dia 13 de maio, a mulher de blusa roxa sentou ao lado de alguém que estava começando o último dia de vida e ela não se despediu e aquela vida tornou-se só mais uma no meio de tantas outras histórias de pessoas que começam seus dias pegando um ônibus atrasado.