Contornando as Situações

É quando você não sente mais nada, nem mesmo dor, que percebe que alguma coisa mudou. É quando você demora a se importar, e a questionar o que antes não passava "batido". É quando o choro foge do controle, e a vontade de gritar permanece. É quando o grito só ecoa dentro da gente, e ninguém nos ouve nem aos berros, nem aos sussurros gritando por ajuda. É quando a dor vira nossa amiga, travesseiro e coberta nas noites de frio. É quando ela se torna indiferente, um tanto-faz que machuca sem pressa o peito, invadindo os olhos, calando a voz de quem sofre.

São nestes momentos que a gente aprende a calar, mesmo querendo gritar, descobrimos que o silêncio tem lá seu valor e muito a nos dizer. Que a gente aprende a caminhar com nossos próprios passos, sem medo de titubear, sem medo do quê e de quem nos cerca. São nestes momentos em que aprendemos a lidar com nossas próprias dores, tricoteando cada uma sem pressa, estampado sorrisos por cima delas, deixando lavar quando o choro se torna inevitável. São nestes impasses que acertamos os nossos passos, caminhamos mais firmes. Aprendemos a tratar sozinho as feridas que nosso corpo pode comportar ao longo da vida. São nestes momentos em que aprendemos a entender a causa, e descobrimos através delas a cura para cada uma. Diferenciamos as cicatrizes das feridas. Separamos quem é, de quem nunca chegou a ser. Compreendemos que somos nós os responsáveis pelas muitas das feridas que vamos adquirindo ao longo do tempo. Alimentamos essa necessidade em estar mal com alguém ou alguma coisa, em cutucar as feridas, reviver as cicatrizes.

Por mais que as causas sejam externas, somos nós quem decidimos contorná-las ou não. São nestes momentos em que precisamos decidir de que forma reagir a aquilo que nos afeta de forma negativa. Gritar ou calar, sorrir ou chorar, viver ou morrer se lamentando pelo fim de algo, ou aproveitar a oportunidade de recomeço que a vida nos da. É verdade, todos nós precisamos de um tempo para digerir certas coisas, todos nós precisamos de um tempo para concerta-las, todo nós precisamos de um tempo para o tempo nos ensinar a encarar estas situações como uma chance de um aprendizado maior. Todos nós precisamos aprender a tratar nossas dores, uma hora ou outra, de uma forma ou outra.

Reges Medeiros
Enviado por Reges Medeiros em 28/05/2013
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