Entre Bolsas e Famílias
Entre Bolsas e Famílias
A correria dos dependentes do programa Bolsa Família nas Agências da Caixa Econômica Federal que ocorreu há alguns dias fez com que muita gente questionasse esse projeto, um dos maiores investimentos em política social do governo. Para criticar com embasamento é preciso voltar as páginas da história e estudar o perfil que o Brasil vem delineando. Temos páginas perversas, vergonhosas e humilhantes. O Brasil vinha conseguindo uma certa autonomia com uma política desenvolvimentista, se bem que capenga, porém otimista nos anos 60. Com o sufoco da ditadura, o poder passou sobre os direitos civis como um trator abrindo caminhos à força, podando sonhos, semeando terror e medo, aniquilando aquilo que a gente, hoje, sabe que seria o nosso progresso, o crescimento intelectual. A ditadura conseguiu enterrar o idealismo e o entusiasmo com a educação no Brasil. Passamos décadas alienados, privados do desenvolvimento que os países do chamado primeiro mundo usufruíam tão naturalmente. Colocaram vendas e viseiras nos nossos olhos e nos transformamos em marionetes, repetindo nas escolas somente aquilo que convinha aos mandatários. E depois dessa aberração política, saímos desse período de ostracismo para uma liberdade entre aspas, mais perdidos que cegos num tiroteio, procurando as arestas para acertar o caminho de volta ao crescimento social. No governo FHC, a política convergia para os grandes: as grandes indústrias, os grandes investimentos, as grandes privatizações, os grandes financiamentos, tudo de acordo com a fidalguia que o então presidente ostentava tão bem. E de repente, numa virada vertiginosa, a política brasileira cai nas mãos de um homem do povo, e as prioridades se direcionam para o social, para o resgate da dívida histórica, para o equilíbrio das desigualdades sociais, para o crescimento das minorias até então marginalizadas. O Brasil escolhe ser uma país de direitos sociais, o que incomoda grande parte que só tinha olhos para o crescimento econômico. Ser uma grande economia à custa da fome e da miséria de muitos não foi e não é uma opção na política passada e nem na atual. Estamos sim, marcando passo para entrar no rol das grandes potências, os investimentos poderiam ser maiores e mais ousados, mas nem todos querem que essa entrada tenha o custo do sacrifício de um povo que só agora passa a conhecer o significado de muitos direitos, como o combate à fome, o acesso ao ensino público do fundamental ao ensino superior, a ascensão social tão sonhada por tantos, que antes era privilégios de tão poucos. E um dos patamares desses sonhos é sim o Bolsa Família. Não importa que alguns a desvirtuem, que usem esse benefício para fins ilusórios. Sempre há alguém que foge às regras em qualquer percurso. Mas a maioria dos pobres brasileiros só descobriu o que é dignidade, progresso e esperança a partir dessa ajuda, que pode ser taxada de auxílio à vagabundagem, motivo de dependência econômica, esmola partidária e tantas outras críticas que lhe atribuem, mas ainda é o primeiro passo para minimizar a diversidade social desse país. É por isso que um boato sobre o fim dessa conquista pode levar as pessoas à loucura, um desespero de causa que ninguém explica a razão. Mas deu para os políticos atuais avaliarem o tamanho do prejuízo político que seria extinguir essa ajuda do governo. Afinal, ninguém quer ficar de mãos vazias de nenhum dos lados: nem o povo e muito menos o governo.