Um amor para sempre
A partir da década de 1920, começaram a surgir no cenário nacional alguns fatores sociais e políticos que contribuíram decisivamente para o declínio e derrocada da República Velha. O agravamento da crise econômica, a eclosão de revoltas e levantes militares, o crescimento das camadas sociais urbanas, além do acirramento dos conflitos políticos devido à progressiva divisão das oligarquias dominantes formam o conjunto de fatores que provocaram a Revolução de 1930.
A expansão da indústria fez surgir a burguesia industrial, a classe média e o operariado. Nas regiões Sul e Sudeste do país, onde essas transformações foram mais intensas, o surgimento e o crescimento desses novos grupos e classes sociais colocaram em xeque o domínio político exclusivo das oligarquias agrárias.
Clotilde era filha única de uma família da classe média, era o ano de Revolução os pais de Clotilde pediam constantemente a ela uma jovem de 20 anos, para não sair de casa, as ruas eram muito perigosas.
As amigas a chamavam carinhosamente de Cotinha, ela era noiva de Fernando filho do dono de uma tecelagem em uma cidadezinha do interior de São Paulo, ela era muito teimosa e por muitas vezes insistia em sair sozinha em companhia de amigas para passear na praça. O noivo Fernando era muito ciumento e não gostava dessas escapadas, más nada podia fazer com a teimosia de Cotinha.
Em épocas especiais a banda de música tocava marchinhas na praça, e os jovens não perdiam a oportunidade de paquerar as garotas que passeavam de braços dados pela praça. Foi numa dessas escapadas que cotinha Rita e Susy suas melhores amigas passeavam pela praça, eram belas e os rapazes não deixavam de notar, sempre tentando uma proximidade, más Cotinha expunha sua aliança mostrando aos rapazes que era comprometida, eles sorriam e diziam é noiva más não esta morta. Naquela noite a banda municipal estava se apresentando, alguns dos membros eram operários da Ferrovia outros pertenciam a guarda civil, os jovens suspiravam a cada toque das músicas românticas.
Eis que entre os membros da banda está Anésio, um sujeito de baixa estatura operário da Ferrovia e tocava uma tuba quase maior que ele. Cotinha não tirava os olhos de Anésio, comentou com as amigas, olhem que coisa mais linda, parece um anjo soprando aquele instrumento enorme, as amigas riram, aquele baixinho, Cotinha contenha-se não se esqueça que você é noiva.
Más ela não se conteve, logo após a apresentação saiu correndo, a banda já tinha descido do palco, ela aproximou-se de Anésio e ficou parada em sua frente, ele ficou assustado, o que aquela bela jovem de olhos verdes e cabelos encaracolados fazia em sua frente, pediu licença, ela disse não, quero te fazer uma pergunta, o que quer, alguma música especial, já encerramos a apresentação por hoje. Não disse Cotinha, você tem namorada, ele corou na hora, não eu não tenho, porque? É que eu te achei tão lindo tocando esse instrumento, meu nome é Clotilde más pode me chamar de Cotinha e o seu? Eu me chamo Anésio.Ela perguntou se podiam passear pela praça, ele ficou encabulado, pediu que esperasse que iria trocar de roupas e guardar o instrumento no caminhão.
Não disse ela fique com a farda, só guarde o instrumento, você esta lindo assim, está bem más tenho que ir embora logo pois o caminhão vai sair daqui a pouco.
Passearam pela praça conversaram bastante, e Anésio acabou perdendo o caminhão, Cotinha estava apaixonada, nunca algo a tinha tocado tão profundamente.
Voltou para casa, os pais se zangaram, que horas onde estava, passeando disse ela, foi até o quarto trocou de roupa e colocou a aliança sobre a cômoda,e foi se deitar, mal conseguiu dormir, pensava no rapaz, no noivo, o que iria fazer, a noite foi longa.No outro dia sua mãe foi ao seu quarto pedir explicações sobre a demora da noite passada, ela olhou para mãe e disse, estou apaixonada, esteve com seu noivo ontem, não mamãe, trata-se de outra pessoa, que loucura é essa agora minha filha, você esta ás vésperas de se casar.
Sabe mamãe ontem eu passeava pela praça com as amigas quando avistei um anjo, ele é a coisa mais linda que já vi, conversei bastante com ele é ferroviário, e toca na banda, foi amor a primeira vista. Isso é bobagem Cotinha, não existe isso, se o seu pai sabe te mata de pancadas.Ora mamãe que importa papai, o que me importa é minha felicidade, más filha e seu noivo o Fernando o que vai dizer a ele, sei lá mãe, ele que arranje outra.
A noite Fernando foi á sua casa, ela contou tudo, ele ficou desolado, eu sabia que essas saídas suas iam dar nisso, seus pais que são culpados, não eles não tem nada a ver com isso, é coisa minha, eu nasci dona de meu nariz, nosso casamento não ia dar certo, porque nós não nos amamos, você não vê que é tudo um arranjo de nossos pais, me perdoe Fernando, você é um bom homem e merece alguém que te faça feliz, e lhe entregou a aliança.
Fernando ficou desolado, sentiu-se traído, abandonado, foi para casa, quase chorando, blasfemava pelas ruas e amaldiçoava o dia que conhecera Cotinha.
Quando o pai de Cotinha ficou sabendo pela mãe, a noticia lhe deixou furioso, teve um ímpeto de bater em Cotinha, a mãe o conteve, pegou-a pelo braço e levou até o quarto, trancou a porta por fora, e esbravejado em alta voz exclamava, você vai para um convento vai ser madre.
Cotinha chorou muito, não quis nem comer, ao entardecer do outro dia formou com roupas um corpo e cobriu como se estivesse dormindo e pulou a janela, sua mãe foi até seu quarto olhou e voltou para sala disse ao pai, está dormindo pobrezinha, você foi muito duro com ela, duro você ainda não viu nada.
Cotinha foi a Ferrovia, chegou na portaria perguntou por Anésio, disse que tinha uma noticia urgente para lhe dar, o guarda mandou chamá-lo ficaram conversando do lado de fora, marcaram encontros.
Cotinha voltou para casa, entrou pela janela, sua mãe entra no quarto novamente, estou com sono mamãe, minha filha você precisa comer alguma coisa ou vai ficar doente.
Enquanto papai não me tirar do castigo eu não como, prefiro morrer, eu vou falar com seu pai, más ele está irredutível. Depois de tanta insistência de sua mãe o pai concordou que ela saísse do quarto para jantar, quero sair disse Cotinha, não você não vai se encontrar com esse operário, más papai eu amo o Anésio, já decidi é com ele que quero me casar. Só por cima de meu cadáver, você dispensou um moço rico que podia te dar de tudo, e agora quer se casar com um tocador de tuba sem eira nem beira.
Se o Senhor não deixar eu fujo de casa, insolente, volte já para seu quarto, e morra de fome, se insistir com isso nem sei o que sou capaz de fazer.
A noitinha Cotinha fugiu novamente para se encontrar com Anésio, estavam apaixonados, Anésio disse que iria falar com seu pai, ela pediu por favor, não faça isso ele te mata e a mim também.
Os meses se passaram e uma noite Cotinha saiu se encontrou com Anésio e foram para um pequeno hotel no centro, ali descobriram o amor, era de madrugada quando Cotinha partiu apressada de volta para casa.
Dois meses depois as coisas estavam normais em sua casa, o pai quase não lhe dirigia a palavra, más ela começou a ter enjôos e vômitos constantes, sua mãe desconfiou de alguma coisa, perguntou se estava atrasada em suas regras ela disse que sim. Levou Cotinha ao médico que após examiná-la constatou que estava grávida, sua mãe ficou nervosa como vamos dar a noticia ao seu pai, deixe mamãe que eu falo.
O pai ficou furioso, pediu que ela mandasse o rapaz vir falar com ele, Anésio foi o pai de Cotinha começou a rir, quando viu Anésio, você trocou aquele industrial por esse tampinha, olhe Sr. eu sou pequeno más sou tanto homem como o Senhor, e posso muito bem sustentar uma família, sou honesto, trabalhador e nunca deixarei que nada falte á sua filha e seu neto.
Sem outra alternativa fizeram o casamento, antes que a barriga de Cotinha começasse a aparecer, foram morar em uma casa humilde más aconchegante, que Anésio tinha alugado e mobiliado.
Alguns meses depois nasce o pequeno Pedro, um lindo menino com os olhos verdes iguais os da mãe, os sogros ficam cheios de si e orgulhosos com o neto.
Anésio não tinha família seus pais tinham morrido em um incêndio quando ele era pequeno, fora criado por um tio viúvo e toda vida economizara dinheiro, comprou um terreno e fez uma bela casa, maior que a dos sogros, foi promovido na Ferrovia á Supervisor, e sua vida com Cotinha e Pedro era um sonho.
Ele era mais baixo que Cotinha e bem magro, um dia vieram avisar Cotinha que ele tinha passado mal durante uma apresentação da banda, Cotinha correu para o local, sem hesitar carregou ele no colo o levou correndo para casa, quem via a sena até sorria, más era assim que ela o tratava, deu banho nele, trocou suas roupas e o colocou na cama, preparou uma bela canja e levou para ele na cama, era o tratava como um bibelô, o amor de sua vida.
Tiveram mais uma menina chamaram de Ana que era o nome da mãe de Anésio, Pedro já tinha nove anos.
Os anos passaram os filhos cresceram, saíram de casa para estudar fora, e o amor entre Anésio e Cotinha não se abalara com o passar dos anos.
Um certo dia Anésio foi com a banda tocar em outra cidade, aconteceu um acidente com o caminhão e Anésio e o motorista morreram, quando Cotinha recebeu a noticia, ficou abalada más não chorou, foi até a funerária levando as roupas para colocar no corpo de Anésio e disse, ninguém toca nele, ela mesmo retirou suas roupas rasgadas e sujas de sangue, limpou os ferimentos a toda hora beijava seu rosto, logo nos encontraremos meu amor, vai em paz.
Os filhos vieram para o enterro, Cotinha ficou a noite toda ao lado do corpo hora ou outra saia para ir ao banheiro.
Depois do enterro ela pediu aos filhos que vendessem a casa, queria comprar uma casa em frente ao cemitério de preferência um sobrado onde pudesse ver o tumulo de Anésio.
Ficava horas sentada na janela olhando para o tumulo, fazendo tricô ou crochê, quando chegava uma visita ela mostrava o túmulo e dizia, veja aquela é a morada de meu único e verdadeiro amor, breve estarei junto dele.