Histórias de ônibus: O visitante
Essa é uma obra de ficção.
Qualquer semelhança com fato real
é mera coincidência.
Normalmente a gente bate-papo com o cobrador e o motorista participa vagamente da conversa.
Compreendo que a função deste ultimo é de uma responsabilidade intransferível, por isso é melhor não ficar de bate-papo com os clientes do patrão. Por isso algumas da histórias que coleciono me foram fornecidas pelos cobradores. Alguns mais falantes, outros menos, uns sisudos demais, outros mais joviais. Um tanto deles inventam suas estórias ou aumentam o conto caprichando em alguns detalhes e juram que não inventaram, outros transmitem uma plasticidade nas palavras e no olhar que fica difícil não crer na veracidade do que nos contam.
Outro dia, um amigo mais honesto me contou essa: O departamento de comunicação da empresa onde ele trabalha estava construindo um jornal, um boletim informativo onde os funcionários poderiam comprar, vender, trocar, se relacionar, enfim, uma interatividade total. Não satisfeitos, queriam que os tripulantes das naves do asfalto, sociabilizassem suas experiências divertidas dentro dos carros, aí veio a pérola!
Um cobrador, querendo se sobressair na arte de fazer rir, muniu-se de papel e caneta, assentou-se no num canto do pátio de manobras e pôs-se a compor sob “inspiração divina” sua estória verídica...
Dizia o conto que um passageiro vindo de estado São Paulo observou que a campainha do ônibus não soava, não emitia som algum, toda vez que alguém desejava saltar o motorista olhava pelo retrovisor interno via alguém puxando a cordinha , parava, abria a porta, o cidadão descia, a viagem prosseguia e era assim.
O visitante, de origem humilde, provavelmente do interior do estado onde as pessoas são francas e não tem muitas novidades mercadológicas na área automobilística, nem se interessam em gastar horas vendo TV, preferem mesmo a prosa nas calçadas ou debaixo de marquises de sobrados cheios de histórias e de culturas, achava que era pura sorte do nosso condutor e que a qualquer momento ele passaria pelo ponto em que algum outro passageiro desejaria descer. Caso acontecesse ele seria uma testemunha à favor do passageiro para que o motorista pudesse parar com a “mania” de contar com a sorte. Pois não é que quando se aproximava do seu destino, o passageiro paulista puxou a cordinha, procurou avidamente pelo barulhinho da campainha, ao não dar por percebido pelo ouvido o tal ruído, puxou novamente, com mais força, esticando o pescoço atrás da cadeira do motorista, procurando o sinal que deveria indicar que ele desejava saltar. Puxou terceira vez, mas não estava contente porque não sabia que ao puxar a cordinha que dá o sinal ao maestro do asfalto uma luz indicava no painel a decisão de desembarque de algum passageiro.
O visitante levantou-se decidido, inclinou-se ligeiramente atrás do “motô” e estrepitou onomatopeicamnente um sonoro e monossilábico:
– Ppeeeeeiiiiiiiiiiimmmm!!!
Por Paulo Siuves