Pensamentos céleres.

Como todo professor que gosta de leitura, eu não poderia ser diferente.

Certo dia, depois do almoço e de ter lavado a louça para a minha esposa, fui até o wc escovar os dentes e fazer outras necessidades fisiológicas.

Tal como rei que quando senta em seu trono não pensa ou se preocupa em se levantar brevemente, assim sou eu. Sentado, consigo refletir melhor e digamos, ler com mais calma, organizar meus pensamentos.

Minhas estantes de livros ficam próximas de meu aposento e do banheiro. Pensamentos rápidos ou céleres passam pela minha cabeça como meteoritos ao cruzarem os espaços cósmicos.

Motivado pelo impulso ou por uma ávida fome de cultura, sempre escolho nestes momentos estratégicos de parada da rotina da vida, um livro que possa preencher o vazio das mãos. Neste dia, peguei um livro de poemas do nosso querido Fernando Pessoa. Nele, contem um poema que me tocou muito, atraindo-me como imã. E alguns versos me chamaram mais a atenção.

Eis o que mais me fascinou:

" No dia brancamente nublado entristeço quase a medo

E ponho-me a meditar nos problemas que finjo...

Se o homem fosse, como deveria ser,

Não um animal doente, mas o mais perfeito dos animais,

Animal direto e não indireto,

Devia ser outra a sua forma de encontrar um sentido às cousas,

Outra e verdadeira.

Devia haver adquirido um sentido do "conjunto",

Um sentido, como ver e ouvir, do "total" das cousas

E não, como temos, um pensamento do "conjunto",

E não, como temos, uma ideia do "total" das cousas.

E assim- veríamos- não teríamos noção de conjunto ou de total,

Porque o sentido de "total" ou de "conjunto" não seria de um

"total" ou de um "conjunto"

Mas da verdadeira Natureza talvez nem todo nem partes."

(de No dia brancamente nublado- Alberto Caeiro,Fernando Pessoa)

Quando li estes versos, pensei comigo: Meu Deus!! Como nós humanos somos tão frágeis e pequenos, de uma efemeridade deveras notável, e como a Literatura massageia o nosso ego e acalenta nossas almas!

Não discursarei o tanto de pensamentos que começaram a sobrevoar a minha cabeça. O quanto pude refletir naqueles infindáveis minutos em que eu reinava em meu "trono".

E nesta semana, as notícias de jornais e revistas martelaram duramente em nossos crânios, um dos fatos que mais me angustiaram foi o fato de um senhor matar um casal vizinho, por estarem fazendo barulho!!

Se fosse então dessa forma, o que seria dos motoristas de São Paulo, das outras pessoas que fazem do barulho seu ofício? O que seria dos jovens e crianças deste presente século? Cito estas pessoas, pelo fato de falarem muito alto em espaços pequenos.

Aí senti que Pessoa me convidou para refletir sobre este e outros fatos que movimentam a nossa vida moderna. Complicada esta vida, barulhenta por demais!!

As pessoas estão muito cansadas, estressadas de seus muitos trabalhos e problemas. A prática literária que deveria acontecer em casa, fica ao encargo da escola. A escola por sua vez anda sufocada pelos problemas sociais e, às vezes, se esquece de convidar os pupilos para viajarem pela imaginação e pela palavra.

Nestes versos pessoanos, obtive uma resposta imediata para o que aconteceu de ruim nesta semana. Tenho certeza de que em outros momentos encontrarei outras respostas.

Pessoa está certíssimo! Nós somos animais doentes e não compreendemos ainda o sentido de conjunto. Será que temos uma vacina ou outro remédio para curarmos os nossos males?

Saindo do ponto majestoso de reflexão absoluta, fui tocar meu instrumento sinfônico,onde professo a minha fé. Pois, como Jesus nos disse: "Nem só de pão viverá o Homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus".

Interpretando o que disse o sábio mestre; a palavra que traz a vida deve ser movida e guiada pelo Espírito Santo, que tem plenas condições de nos ensinar o que Pessoa citou.

Já que meus pensamentos estão mui céleres, encerro por aqui esta crônica ou até meu esboço de crônica, porque outras , pensamentos,surgem rapidamente e desaparecem como o vapor.

SérgioLumell
Enviado por SérgioLumell em 26/05/2013
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T4310333
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.