A Raça Parte 2

Continuação de "A Raça" parte 1

- Então estás melhor? - Pergunta-me o Manel. – És mesmo fracote não aguentas com umas lições de história aqui do meu sogro. Vá, relaxa, porque a procissão ainda vai no adro.

O Sr. Gonçalo embalado na sua tese, assim que me viu continuou.

- Como vês, o cuidado em preservar a raça não olhava a meios nem que para isso se incorresse no pecado da consanguinidade, coisa que se resolvia com uma bula pascal.

- É como na semana santa, desde que se pague a bula, já se pode comer carne sem pecar. – Comenta o Manel, metendo o bedelho.

- Não era com essa facilidade, porém, tem o seu quê de verdade. Ora continuando: É no reinado de D. Maria II, que eu quero dar o exemplo.

D. Pedro IV rei de Portugal abdica em favor da sua filha Maria da Glória, em virtude de se tornar no primeiro imperador do Brasil, como D. Pedro I .

D. Miguel, irmão do monarca, achava-se com direito à coroa, o que dividia os portugueses. Para evitar uma guerra, D. Pedro casou a filha de 7 anos, herdeira do trono, com o irmão D. Miguel.

Mas entretanto não contente com a situação, D. Miguel fez-se coroar rei e desencadeou-se uma guerra civil que acabou com a dissolução do casamento e com a derrota de D. Miguel que foi desterrado para a Alemanha. Reposta no trono, D. Maria, agora com 15 anos. Casa aos 16, com D. Augusto, um duque estrangeiro que morre de difteria, dois meses depois.

- Chiça! É preciso ter azar, casam a piquena tão novinha e no primeiro casamento nada e no segundo com 16 aninhos nicles também. - Comenta o Manuel com ar pesaroso.

Aqui, eu contive mais uma vez o riso para não cortar o fio à meada, pois estava gostar da história.

- Vê lá se te calas um bocadinho, senão nunca mais consigo dizer o porquê desta linhagem.

- Por quem sois senhor meu sogro! Continuai, continuai.

- Então havia que casar a nossa rainha novamente. Desta vez tocou a sorte D. Fernando de Saxe, um príncipe de Viena que recebe o título de rei consorte, após, segundo a lei, o nascimento do primeiro filho. Passando a ser conhecido como D. Fernando II.

Antes de falar de D. Fernando que é o exemplo que eu quero dar, há que falar nalgumas curiosidades da D. Maria II.

Como todos sabemos D. Maria II, recebeu o cognome de a Educadora. Isso deveu-se ao empenho na educação dos filhos. Conta-se que num dos seus passeios públicos, uma criança se abeirou do príncipe D. Luís, tentando abraçá-lo, o que o príncipe recusou, afastando-o com um empurrão. A mãe ao ver, fez o príncipe pedir desculpa e obrigou-o a aceitar o abraço do menino. Nunca permitiu que os príncipes tratassem quem quer que fosse por tu. Quer fosse novo ou velho, nobre ou um simples criado.

- Grande exemplo. - Comentei.

- Isso é verdade, hoje infelizmente já não há disso. Continuando… Esta nossa rainha para além das suas responsabilidades como monarca, entendia que lhe acrescia a de ter filhos, coisa que ela considerava como um dever da rainha. Com partos muito difíceis, é alertada pelos médicos após trinta horas de parto no seu terceiro filho, do risco que corria se tivesse mais filhos. Respondeu a Rainha: Senhores se morrer, morro no meu posto. O que veio a acontecer no décimo primeiro.

Ora bem… Durante a 4ª dinastia e até este reinado, observamos que nas várias gerações da monarquia, a palavra família, não tinha qualquer significado. Sempre em quezílias uns com os outros. Os Braganças, para além de reinarem, alguns com despotismo e esbanjamento, nada mais há a salientar para além dumas obras, embora muito importantes, como o foi caso do aqueduto das Águas Livres, no entanto, fruto das muitas riquezas vindas do Brasil.

Este casamento com D. Fernando traz uma lufada de civilidade à monarquia Portuguesa, resultado da sua formação e sensibilidade como pai. Constituindo uma família digna desse nome, onde os filhos eram todos amigos uns dos outros.

Porém, foi noutro capítulo, que a acção de D. Fernando acabou por merecer maior estima e admiração dos portugueses. O rei mostrou-se um grande defensor do património construído, garantindo a conservação de obras como o Mosteiro da Batalha, o Mosteiro dos Jerónimos e o Palácio-Convento de Mafra. Para além disso, sendo ele próprio pintor, desenhador e cantor, fez-se rodear de artistas, de quem foi patrono.

-Ah pois! Isso é verdade, de tanto se rodear de artistas até arranjou uma como amante, uma cantora lírica.

-Também tu António? Assim nunca levo a água ao meu moinho. Bem!.. Estou a ver que tenho que rematar. Graças a este sangue novo, monarcas cultos, marcaram os últimos anos da monarquia. D. Pedro V que morre novo com apenas 24 anos, foi um rei amado pelo povo. Destacando-se entre as muitas virtudes, o seu sentido humanista. Sucede-lhe o seu irmão, D Luís.

D. Luís, era um homem culto e de educação esmerada como todos os seus irmãos. De grande sensibilidade artística, pintava, compunha e tocava piano. Poliglota, falava correctamente algumas línguas europeias. Fez traduções de obras literárias. Sucede-lhe o filho D. Carlos cognominado de rei pintor.

Bom!.. Acho que já chega como exemplo, da força dos genes masculinos. Como vêm desde D. Pedro V, que os monarcas apesar de terem o sobrenome de Braganças, o que predomina são os genes de D. Fernando nas gerações futuras, como vimos.

Então? Agora já estão convencidos que é o macho que transmite os genes da raça ou não?

- Tanto eu como Manuel ficámos calados, sem argumentos para contrapor, quem estava habituado a estas andanças.

- Satisfeito senhor António, com esta explicação do meu sogro? É que na próxima lição, talvez te explique, porque razão é que ele gostaria de ter um filho bispo.

- Ó senhor Gonçalo essa para mim é nova, Bispo!! E agora um filho numa gaja qualquer. Já agora, o Manel como sacristão. Pode ser que assim, Deus o perdoe.

- Ó Tónio!..

- Diga Sr. Gonçalo.

- Cala-te!

Lorde
Enviado por Lorde em 26/05/2013
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