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PAIXÃO À PRIMEIRA VISTA
Ysolda Cabral



 
Paixão à primeira vista é coisa  séria. Não há quem consiga evitá-la. Pois muito bem: estava eu navegando pelo mar das novidades robóticas na Internet, em sites aleatórios, quando dei de cara com o netbook dos meus sonhos. Pronto, deu-se a desgraça! Impossível evitar a paixão instantânea. Lindo, leve, da cor da paz, mas,  Andróide... Que será isso? Ah, sei lá!  Comprei  no ato.  Minha primeira compra virtual, fora passagens aéreas!  Me achei.

Saí pulando pela casa contente da vida e fui parar no quarto de minha filha que dormia sem hora pra acordar, e, que, ao abrir os olhos com preguiça paciente, falou: ô mamãe, você já não tem um not? - Não gosto dele!  É pequeno demais. Confundo comandos e teclas...  Então ela considerou: mas  o net é ainda  menor! E Andróide?! - Você sabe o que é isso? Sei não, mas não deve ser coisa lá muito boa e voltou a dormir,  me deixando sozinha com  minha alegria.

Poucos dias depois o meu ‘’objeto de desejo’’ chegou. Como ele era lindo, meu Deus! Abri, tentei fazê-lo funcionar e nada. Li o manual e quanto mais eu lia, menos entendia. Odeio manuais! Apelei novamente para minha filha que conseguiu fazê-lo entrar na Internet e depois de alguns instantes ele literalmente morreu. Apagou-se. Escafedeu-se. Coloquei-o de volta na caixa, como quem coloca um defunto querido no caixão, mas resignada e terminei por me esquecer dele, isso há exatos 10 meses.

Semana passada ao ver meu amigo e colega de trabalho, Thiaguinho, (Thiago Medeiros, garoto sabe tudo nesta vida) manusear seu celular Andróide, me lembrei do meu ‘’objeto de desejo’’ e lhe contei a minha triste e decepcionante história. Ele, sem acreditar no que acabara de ouvir, me perguntou se podia examinar o ‘’defunto’’,  o dito cujo.

Conclusão; depois de examinado, eis o diagnóstico: estava travado. Thiaguinho destravou, instalou alguns programas compatíveis com seu sistema Andróide, mais um editor de texto maneiro, pois se eu quiser digitar, digito. Caso contrário, é só falar  que ele digita sozinho.

- É brincadeira?

Agora estamos aqui eu e ele. Ele olha pra mim eu olho pra ele e vou digitando no meu velho computador, mas  em silêncio absoluto! Vai que eu fale e ele escreva tudo e ainda publique  no Recanto das Letras?!

Eu, hein!  Tô fora!  


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Obs.: A cara-ilustração não é minha. É do Dr. Google. :)