Evoé, Poeta e poesia!

Evoé, Poeta e poesia!

Depois de ler algumas poesias suas, estou perturbado. Você distribui as palavras em versos e elas aceitam, sem provocar uma liça, os seus devidos lugares. Sua poesia me instiga muito, pois consigo lhe perder de vista e encontrar um Poeta diferente, depois de cada poesia gerada. Parece que seus eus-líricos vão se multiplicando para dar conta da prolixidade do vasto mundo que há em você e do seu talento inconteste. Em certas poesias há um desabafo, a dor de ser poeta, o peso do mundo, mas, percebo que gosta de carregar essa cruz. Você nada diz? Fale algo! Quer dizer que a sua poesia é sem comprometimento, pois procura desmascarar verdades e estabelecer dúvidas? Como assim? Sei! A poesia deve confundir e não explicar; se mostrar de diversas maneiras cada vez que for apresentada.

Seus versos nascem à revelia? Entendi! Há uma cumplicidade, uma amizade e uma intimidade que poesia e Poeta se procuram; ambos não se distanciam por muito tempo. Você como Poeta já brigou com algum verso? Sei! Há uma relação de respeito e licença e, assim, o Poeta e a poesia vão construindo seus mundos e distribuindo vidas para a vida.

Você aduba o papel com sentimentos, por isso percebo que nascem versos que dão frutos saborosos. Eu entendo a sua poesia, mas, também, lhe compreendo, Poeta. Sua poesia é angustiante, mas acalentadora; há uma vontade de confundir o que está determinado para ser explicado. Sua poesia procura as trevas do humano para, assim, clarear os caminhos com seus versos escritos no abismo da alma e gerados no ventre dos sentimentos. Mas, você Poeta, cabotino e egocêntrico, usa sua arte maior para se apresentar ao mundo como dono dessa maravilha que é sua poesia. Riu? Sabe que falo a verdade! Você se utiliza da sua poesia para mostrar o quão é grandioso e o quanto os outros estão aquém desse seu talento. A sua arrogância tem como escudo as palavras e você sabe usá-las muito bem. Aliás, elas lhe admiram, pois lhe perseguem, não só na poesia, mas em outras formas de arte. Você corrompe a realidade com o onírico, propaga o idílio e torna a existência mais liberta; sem os cadeados que a vida e o mundo apresentaram.

Você está contente com sua poesia? Com certeza, não é? Sabia que sim! Você não usa modéstia e não se apresenta, pois a sua poesia é a sua referência. Sua poesia é a sua grande obra, sua filosofia e sua fé.

Percebo que poesia e Poeta geram e parem um ao outro e que não há uma regra para o verso nascer, apenas, uma vontade de explicitar a arte. É interessante como seus “eus” cabem tão bem dentro de você, mas há uma convivência harmoniosa? Não? Entendi! São tantos “eus” em gestação que todos querem nascer, ao mesmo tempo, e não percebem que o Poeta precisa cicatrizar cada parto para que, assim, nasçam novas poesias sadias. E as marcas poéticas existem? Quer dizer que há uma amputação e que o Poeta se dilacera para apresentar as palavras que vivem além e só com alma de Poeta consegue alcança-las e convencê-las a um propósito? Que propósito é esse? Entendi! Escancarar o mundo e mostrar mundos que estão escondidos; trancafiados nos porões de uma existência enferma.

Noto que ser Poeta é ter mundo e vida próprios e, assim, reconstruí-los, sempre, com sonhos e rimas! Mas, também, é perceptível que o Poeta é pródigo, pois divide a criação com meros mortais e procura, dessa maneira, arregalar olhos e corações e mostrar que há mais cores no plúmbeo. Mas entendo que você, sabendo disso, faz uso e se vangloria, vilipendiando o mundo ínfimo e parco e se mostrando senhor da existência através da sua poesia. Entendi, agora, quando se diz Deus!

Sua poesia e você se confundem e eu não sei onde um termina e o outro começa. Não? Vocês nascem juntos, mas não seguem de mãos dadas. São dois em um, mas com caminhos diferentes e com liberdade de se fazer entender. Compreendi! Não há prisão na criação e nem algemas nos sentidos; existe, apenas, a ampliação de vida através de vidas que há nos versos. Que belos versos nascem de você, Poeta! Eu rimo você e sua poesia com o onírico. Evoé, Poeta e poesia!

Mário Paternostro