A MAIS NOVA SONÂMBULA DO PEDAÇO

Seis e meia da manhã. Ainda não amanheceu, porque o galo não cantou e o sol não apareceu. Final de outono é óbvio que o sol dorme ainda, antecipando a preguiça matinal do inverno. E se o galo não cantou é porque galo não existe por aqui. A modernidade tornou o galo obsoleto, pelo menos no que se refere a despertador porque as outras funções acredito que ele ainda exerça. Senão como os ovos iriam virar pintinhos?

Como eu dizia, seis e meia da manhã. Ome, Sertra e Rivo descem vagarosamente pala garganta, em fila indiana, empurrados pela água gelada da torneira. Ah! Ome, Sertra e Rivo são os apelidos carinhosos do Omeprazol, da Sertralina e do Rivotril, os companheiros que cuidam do meu estômago, da minha deprê matinal e daquela ansiedade idiota que, nem mesmo o tempo, essa mala enorme que carrego, conseguiu dissipar.

Seis e meia da manhã. Meio dormindo, esquento a água e tatuando bomba e cuia, derramo metade da erva ao preparar o chimarrão. Também, ainda tonta de sono e sem óculos, o que é que eu poderia esperar? A cama me olha com um olhar convidativo e sem vergonha... Mas, sem vergonha mesmo é o pensamento que me ocorre agora: quem sabe eu largo tudo, fecho os olhos e, como sonâmbula, volto para as cobertas quentinhas? Afinal, sonambulismo tanta gente tem... por que eu não? Tomo a primeira decisão do dia que ainda não clareou. Bato o martelo e retorno aos braços de Morfeu. Bato o martelo? Isso é coisa de juiz e eu nem martelo tenho! Ah, deixa prá lá!

E o trabalho? Bem, ninguém é de ferro e, com ou sem martelo declaro: sou a mais nova sonâmbula do pedaço!

Giustina
Enviado por Giustina em 25/05/2013
Código do texto: T4309122
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