A sombra do Juazeiro e as minhas perdas

Neste fim de tarde, uma brisa suave, balança os galhos e as folhagens desse velho Juazeiro. E a sombra do Juazeiro, hoje, aqui sentada e quieta, descanso os longos e longos anos de dura lida.E assim, a sombra do velho Juazeiro, sinto-me, como se resgatada fosse, por um carinhoso abraço, aconchegando as lembranças de uma vida, intensamente vivida.

As horas passam, lentamente embaladas pelo canto dos pássaros que em seus frondosos galhos, entoam, nesse fim de tarde, a sinfonia que me encantava o coração adolescente, como me toca agora, a alma, sempre apaixonada e, que de sonhar, nunca se cansa, e que, cortando o tempo, anda lembranças, dentro do peito guardadas.... e o bom, é que o tempo, que por mim passou, fez uma seleção, expurgando, reciclando e atirando para bem longe das minhas entranhas, fatos, atos, gestos, e palavras que outrora me feriram, e me magoaram tanto.

Hoje, nesta hora, em que o sol naquela serra aos poucos vai se escondendo, atiça minha memoria e, assim vou a galope do "manga larga" selado das minhas boas e suaves lembranças, pinçando do meu alforge, o traço de um riso, o brilho de um olhar castanho, o calor e ternura de um abraço, o som de uma orquestra, imagens de baile de carnaval, uma musica de Roberto Carlos, um poema, um andar deixando marcas na areia pelas Praia do Cabo Branco, Tambaú, Poço e Camboinha, que aguas do mar, apagam... logo, logo, mas que deixam de gorjeta, as muitas e longas estradas sertanejas...

Aqui, pacientemente, vou ficar, e esperar. por aquele céu de estrelas que iluminava o chão da minha infancia, marcada entre o amor dos meus pais e o carinho dos meus avós. E, mesmo agora, depois de tantos anos e tamanhas perdas, pela vida afora, nunca me sinto a sós.

A sombra desse velho Juazeiro, abraço a saudade suave e mansa, de um tempo que me trás, um gosto de felicidade me massageando a alma que ainda canta, sonha e ama, assim, sem hora e sem tempo, porque, minha alma, nunca envelhece, ela é, simplesmente, eterna...