A personalidade e suas máscaras

Há muito Nietzche apresentou ao mundo suas várias vozes, enfatizadas em sua grande obra Assim falou Zaratustra. Jung ficou perplexo quando notou que sua prima de dezenove anos começou a falar com outra voz, mais masculinizada; já Fernando Pessoa desenvolveu seus diversos heterônimos, qualificando-os até com mapa astral. Foi estudado por muitos como místico, autor de poesias psicografadas e até bruxo somaram ao seu currículo. Mas afirmou em sua poesia ser o escritor um fingidor, chegando afirmar que sentia dor, mesmo não sentindo-a. Será que Fernando Pessoa mentia?

De fato a personalidade carrega consigo a dúvida. Suscita os mais longos e polêmicos questionamentos, que se associam em preceitos religiosos, sociais, ideológicos, sentimentais, políticos, preconceituosos etc. Nasce alimentada por julgamentos, muitas vezes, deturpados pelo meio que o ser humano vive. Ou pelo fato de se orientar pelos arquétipos, modelos ideais; mas não é só isso, o ser humano pode reagir de acordo com os impulsos, ou seja, ação – reação. Pode, também, alimentar as mais profundas fantasias e delas retirar a sua nova personalidade. Ele não era assim, exclamariam os abismados; os religiosos encomendariam o corpo à uma sessão com o missionário enviado por Deus; os políticos proporiam a troca imediata de partido; o amigo fiel e dotado da fúria sentimental teria como solução a morte passional e o preconceituoso deixaria claro que isso tudo seria por influência de sua etnia, classe social, cargo etc., de fato várias personalidades brotariam desse enviesado jogo de personalidades. Várias personalidades surgiriam por essa gama de conhecimentos, muitas vezes desnecessários, polêmicos, maléficos a aquisição de sua verdadeira personalidade.

Será o ser humano um ator, dotado das muitas faces sugeridas pelas várias faces impostas por uma personagem? O intérprete, seja ele um cantor, ator de teatro, de TV, de telenovelas, cinema realiza aquele papel nesse determinado momento (?), afastando-se de sua personagem quando levado à realidade. Mas nem sempre esses dois mundos separam-se: são personagens românticos terminando felizes, juntos ao final da trama e na vida real acabam com casamentos duradouros em busca dessa paixão ficcional. Outros matam na ficção e na vida real tornam isso tudo realidade. Seriam às máscaras idealizadas por Jung feitas os mascarados do teatro antigo? As pessoas seriam suscetíveis ao meio ou não mudariam, pois o seu caráter já foi traçado? Nem tanto gelstalt, muito menos o moldar através da infinitas formas de sofrimento. Sejamos realistas, trabalhando com argumentos sustentáveis, cabíveis e retirados do nosso cotidiano, embasando-se em teorias que se comprovem na realidade, alimentando um jogo real.

Nas artes, principalmente na literária, o autor se banha das mais fantásticas inspirações que alimentam seu processo criador. Emite opiniões angariadas por suas personagens, descaracterizadas de sua função real que seria a do próprio escritor. Ele como pessoa, livre das amarras que o leva a propor conceitos dantes nunca imaginados por ele, homem que vive, alimenta-se, possui sentimentos etc. Mas o mundo da criação funciona desta forma: várias opiniões distantes da sua própria, entretanto é o autor que dá liberdade a estas idéias, sonhos, imaginação, encarando as várias máscaras impregnadas às suas várias personalidades.

Seria o ser humano um escritor fingidor? Parou e olhou? Então contentem-se com às diversas personagens encaradas pelos seus semelhantes e por você mesmo.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 29/03/2007
Código do texto: T430709
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