O ESTUDANTE, O PROFESSOR E A VIDA DA PALAVRA

Hoje quero prestar uma homenagem dupla. A primeira para todos os Estudantes de Letras, que depois de um dia de trabalho, viajam para cidades vizinhas em busca de conhecimentos oferecidos pela Universidade. A segunda, ao Mestre Xico de Assis, Mineiro da mais fina cepa. Um Poeta (por falta de recompensa financeira, como é próprio da lida) que migrou para área do Magistério (que sofre dos mesmos males). Deu empate. 0 X 0. Mas deixa isso pra lá...Vamos à crônica do Xico.

Cheguei! Arre! Ainda bem que pulei fora daquelas páginas frias e sem vida do Aurélio. Há quem goste de ficar ali perfilada, em ordem alfabética, sem expressão, numa "aurea mediocritas" como diria minha Mãe. Detesto rotina. Gosto mesmo é de conjunção com minhas amigas.

Tenho amiguinhos que não me deixam em baixo astral. Quando, como todo ser vivo, começo a ficar entediada e monótona, eles exaltam meus atributos dizendo que sou expressiva, graciosa e muito significativa. São os adjetivos. Nem todos porém, são corteses e urbanos comigo., Estes, por despeito ou ressentimento, porque sem mim não conseguem sair do dicionário, tentam me diminuir dizendo que sou grosseira ou chula. Entretanto, minhas sílabas nem se abalam com isso.

Tenho outros amigos, os verbos, que me ajudam muito. Só têm um defeito: são muito transitivos e boquirrotos. Não sabem guardar segredo. Tudo que faço divulgam. Alguns quando não sabem o que dizer, deitam falação assim mesmo. Fazem rodeios, inventam circunlóquios, constroem perífrases, mas não ficam calados... Um dia destes Dona Regência me alertou:

-- Cuidado com certas preposições! São muito atrevidas e intrometidas, conforme seu próprio nome diz. Essas intrusas, se não colocadas em seu devido lugar, metem-se onde não devem.

Aprecio os conselhos de Dona Regência. Mas no geral, abomino os palpites de Nhá Sintaxe. Ë muito rabugenta e repressora. Nunca me deixa viver com liberdade.

Uma coisa que muito me envaidece é mudar de emprego. Gosto de dar novo sentido à minha vida. Nesse caso quem me favorece são os Poetas. Até me surpreendo com sua ousadia. Um deles chegou a dizer que tenho "mil faces secretas sob a face neutra". Sou mesmo muito pol(iss)êmica.

Aborrecem-me sobremaneira os gramáticos. Rotulam-me com apelidos horríveis. Se me comparo a uma amiga, me chamam de metáfora. Se exagero um pouco, dizem que sou pleonasmo. Se uso um penduricalho qualquer lá vem um apelido: é paragoge. Credo!

Tenho muita saudade de minha Mãe. Era mulher rígida que não gostava de ambiguidades, todavia sabia ser doce e afetuosa como atestam alguns Poetas latinos. Tinha memória fabulosa. Declinava com facilidade todos os nomes conhecidos. Foi muito amada e elogiada por grandes escritores como Virgílio, Horácio, Cícero e Ovídio. Quando envelheceu se envolveu com soldados Romanos e com a plebe, tornando-se vulgar. Por fim deixou-nos.

Pobre Mãe! Ouço dizer que era muito complicada e hoje, desprezada e mal compreendida.

Não gosto de políticos porque me manipulam a seu bel prazer. Quando se acusam até que me sinto honrada com a verdade, mas quando se defendem ou fazem promessas, lá se vai meu compromisso com a ética.

Aí está, amigo leitor, o pouco que traduzi de minha vida. Expressei meus sentimentos que podem parecer humanos, mas qual humano não recorre a mim para exprimir os seus? Oldack/26/07/010)

Oldack Mendes
Enviado por Oldack Mendes em 24/05/2013
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