SAUDADE.

A saudade asfixia, dilacera, corta a carne rompendo os tecidos do sentimento, faz o abraço vazio e a a presença sonhada.

Lá se vão três anos...o tempo...esmaga.Minha mulher chega com um jarro de vidro e me diz, trouxe para você, mas não sei como continuará a se conduzir. Respondi: como sempre....Minha mulher considerava minha irmã também como irmã, ela que tornava qualquer ambiente incendiado por sua alegria e postura irreverente italiana.

O jarro é do mesmo feitio que levo todos os anos no dia de Nossa Senhora Auxiliadora, dia 24 de maio, com rosas, para Aquela que protege a todos nós, como dizia meu pai "desavergonhadamente", ou seja, sem medidas. Nossa Senhora Auxiliadora, nome de minha irmã querida, Maria Auxiliadora. No seu dia, 24 de maio faz três anos hoje passados, quando preparava as rosas para levar à Igreja dos Salesianos, de onde é padroeira, recebi o surpreendente telefonema que minha irmã estava no hospital passando mal. Larguei tudo e para lá corri, estive ainda com ela e vi que era grave o quadro. Perdi minha irmã pela tarde, na hora em que ela rezava sempre para o Senhor morto, três horas da tarde. Não tinha antecedentes cardiológicos, a família não os têm.

Aquela que me iluminou nas maiores decisões de minha vida, Nossa Senhora Auxiliadora, levou minha irmã no seu dia. Os desígnios maiores são aceitos, não sem dor, nossas fragilidades são maiores que nossa compreensão, mas minha irmã vivia silenciosamente uma grande aflição, perdeu um filho, a quem eu considerava meu filho mais velho, também surpreendentemente, três meses chegados dos EUA, onde viveu por quatorze anos. Vou nesse ano, mais um de saudade indescritível passado, onde se foge da fuga de encarar a realidade, mais uma vez aos pés de Nossa Senhora Auxiliadora, o que não fiz no dia em que ela se foi, mas faço anualmente, homenagem abortada pela convulsão do momento, quando arrumava rosas para a oferta anual, e vou agradecer por estar minha irmã, tenho certeza, na paz espiritual que tinha perdido, juntas as duas, minha irmã Dodora, com a santa de quem obteve o nome, Nossa Senhora Auxiliadora.

Amém, e o bálsamo nasce de "botar para fora", escrevendo, o aperto no coração, escrever é terapia, também e muito. Sei que ela está em paz, a paz que já não tinha.A paz que pude ver dias atrás no sono eterno de Bernadete de Soubirous, que dorme o sono da eternidade com seu corpo incorrupto, em Nevers, na França, mais uma santa a testemunhar o Poder da Virgem que lhe apareceu em Lourdes.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 24/05/2013
Reeditado em 24/05/2013
Código do texto: T4306319
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