Maldito racismo de cada dia
"Todos são iguais perante a lei". Eu sempre me inquieto com tal frase magna de nossa Constituição. Por que? Por um motivo simples: não somos iguais nem temos igualdade alguma, de espécie alguma, na realidade. Somos bombardeados por declarações, omissões, redações e até notícias de cunho racista que fariam o lendário José do Patrocínio, ou o magnânimo Joaquim Nabuco ficarem de cabelos em pé!
Primeiro os jovens negros morrem mais e de forma violenta todos os dias. Assistindo a um programa sensacionalista local eu vi uma história aguda e que comprova, infelizmente, a nossa teoria. Um jovem, que não preciso dizer que era negro, foi morto por engano. Era trabalhador e foi confundido com um estuprador que aterrorizava a vizinhança. No calor da "justiça pelas próprias mãos", ele foi arrastado e morto com vários tiros sem ter direito de dizer que não fora ele o estuprador. Triste peça do destino. Depois que ele morreu foi descoberto que a coisa mais simples era ter perguntado a vítima se tivera sido ele ou ter deixado que a polícia tomasse conta. O erro feito e a morte feita. O que fazer? Voltar até o texto constitucional e perguntar: o que garante, na prática, o que você, a lei, diz na teoria?
Quem não se lembra da história triste e comovente do menino Alcides, morto por engano por traficantes? Pois é! O problema é que muita gente diz que dar ênfase a história do menino é encobrir um problema dos outros. Ora bolas! O que é isso? Que problema pode ser encoberto pela morte de alguém inocentemente? Ah, mas muitos jovens da favela também morrem dia a dia. Sim, isto é verdade! Mas, por que não falar do Alcides? Porque ele era também um morador da favela? Por que ele era negro? Por que venceu na vida? Não há como justificar esse modelo tacanho de pensamento senão como o maldito racismo entranhado nas veias.
Se você liga a televisão e vê, num programa vespertino de domingo, uma pessoa dizer que esperava das "pessoas de cor" que tivessem mais gingado é considerado normal (?). Mas eu não irei admitir normalidade nisto. Mas como diz o ditado: pimenta no dos outros é refresco não é? Assim eu continuo esperando no dia a dia a tão propalada igualdade racial, social e étnica. Mas onde ela está mesmo? Nos livros abolicionistas? Nas teses falsas do falso Rui Barbosa? Nas homilias eclesiásticas? No falatório dos direitos humanos que não são para todos? Ou na lei áurea que não libertou para libertar e sim para jogar no mundo frio e sem futuro a todos os negros? Não sei. É preciso ouvir as ruas para se ter alguma resposta.
A verdade é que eu continuo esperando sentado para que as coisas melhorem. O maldito racismo está nos campos de futebol, de outros esportes, nas sociedades ditas de primeiro mundo, na xenofobia européia, na KKK americana. Em tudo. Tudo respira racismo. No sensacionalismo televisivo. No cabedal de eufemismos que se usa para encobrir o racismo. No engraçado ser moreno para não admitir negritude. Enfim, nós somos reféns natos da desigualdade racial e teimamos que não somos. Que os jovens mortos nas ruas, que são negros em sua maioria, nada mais são que números frios. Quando não são isto. E agora José, Maria, Firmino e Francisca? E agora povo brasileiro? E agora?
Gozado é que o ser humano ainda é cheio de seus preconceitos. Grande nutriente dessa sociedade hipócrita e promíscua. E como não entender isso? Como não? Na verdade somos aquilo que mais dizemos não ser. Doce contradição que alimentamos a fórceps. E aí o racismo vai crescendo e o começou como uma brincadeira vai-se multiplicando e formando um ser desprezível: o racista. Mas não espere que os canais de maior audiência fuja disso. São eles mesmos que mais se alimentam destes engôdos e fingem ser aquilo que não são. Coitados dos não inocentes! São gente boa, apesar de um tiquinho de preconceito só! Mas é culpa dos pais, da educação, da bíblia, do vídeo game, mas jamais de si mesmo.
Eu termino meu texto como eu o comecei. Agora não em tom de angústia e sarcasmo, mas de esperança que o caput do artigo quinto da Constituição não fique só no papel. Porque "Todos são iguais perante a lei".