ALMUERZO
Quando fui a Montevidéu, a trabalho, desembarquei na cidade por volta da hora do almoço. Eu iria tocar à noite em um evento do Fluminense – sim, o time de futebol – e me hospedei no mesmo hotel onde ficaria a delegação. Fui a convite de um amigo que, na época, trabalhava no marketing do clube. Viajamos no mesmo voo, inclusive.
Logo que adentramos no saguão do hotel, o presidente do Flu aguardava este meu amigo e o chamou para almoçar. Evidente que o peão aqui não poderia acompanhá-los, pois o encontro deveria conter papos estratégicos. Aí ele falou “Beto, faça o check-in e peça alguma coisa para você comer lá no quarto mesmo”. Opa, beleza! “Tá liberado caviar?”, perguntei e ele me olhou meio enviesado, por sobre os aros dos óculos, sem dizer nada. “Macarrão, então, entendi”.
Fiz o check-in, subi ao quarto, tomei uma ducha, liguei a tevê, e abri o cardápio... em espanhol. Muito bem, tranquilo, não há por que entrar em pânico. Espanhol e inglês, Betão, mas você vai pedir macarrão mesmo, no hay problema. Fui tateando as palavras que reconheci aqui e ali e escolhi um prato que parecia ser macarrão ao molho branco.
Saquei o telefone, disquei e o recepcionista atendeu... em espanhol!
Respirei fundo e mandei, calmamente “Olá! Eeeu gostariiiia deee un macarãaao aaao mooolho braaanco.
Perfeito! Impossível de ele não compreender.
– Señor, yo no lo entiendo.
– Eeeu quieeero un maaacaaarãaao...
– Senõr, no entiendo nada.
– É esse aqui, ó... – apontei.
– ¿Qué?
Gringo mentecapto! Esbravejei internamente.
E foi só dar um segundo de silêncio, tentando achar as palavras certas, que o recepcionista desandou “Señor, pero que si, pero que no, ándale, ándale, maricon, e patatá patatá...” e tive de afastar o telefone da orelha.
– Paaasse paaara o restauraaante. – Fiz mais uma tentativa
– Ahn?!
– Res-tau-raaan-te.
– Ah, sí, ahora entiendo. Usted quiere tener el almuerzo.
– Isso! Almuerzo! Pode ser almuerzo, alfredo ou ao sugo, só mande com queijo ralado, por favor.
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