A casa verde está entre nós!
O genial Machado de Assis, um dos melhores escritores do século XIX no mundo, certa vez nos brindou com uma obra prima em conto que foi "O Alienista". Uma sátira formidável sobre aquilo que se entendia por "normalidade" e o que se fazia de mais estranho para o normal. Até o ponto de o Sr. Bacamarte, eminente psiquiatra, concluir que o louco era ele.
Da obra célebre do "Bruxo do Cosme Velho" temos a medida exata desta exasperação contemporânea que nos cerca. Fiel a esta sua aptidão ao esoterismo, mesmo que inconsciente, Machado de Assis parece ter descoberto o segredo do Brasil que vivemos hoje em dia.
Se eu olho para o lado eu percebo pessoas tão loucas e cheias de manias e transtornos compulsivos que compram demais, que idolatram artistas demais, que se preocupam demais com a vida dos outros, que gritam demais e se expõem quando querem demonstrar a sua religião, que se agridem demais e assim por diante. Hoje mesmo estava no ônibus e presenciei a briga de um motorista de ônibus com um motorista de um automóvel.
- Você tá cego? Tá louco? Tá doido?
O outro
- Você é quem tá louco! Tem vergonha rapaz!
Ou seja, não se tem mais um pingo de paciência e os xingamentos são tão rotineiros que as pessoas em volta nem reagem mais.
Outro dia uma cobradora soltou os cabelos e gritou enfurecida contra o motorista do ônibus. O espelho retrovisor do coletivo caíra. Os dois travaram uma batalha homérica para ver quem tinha razão. Os passageiros batiam nas cadeiras do ônibus. Mais um flagrante: um ciclista parou num sinal fechado e interrompeu pedestres e carros, enfim, o fluxo daquela rua de trafegar. Foi xingado e xingou. Mais uma última comprovação do ódio e o desvario no trânsito: vinha de carro quando um senhor taxista buzina e tranca o carro que a minha namorada dirigia sob o pretexto de estar "atrapalhando o trânsito", quando este trânsito refere-se a uma saída de estacionamento. Oras!
Logo, meus caros, se o nosso intrépido Dr. Bacamarte cá trafegasse, ele encontraria o "povo" ideal para ocupar a sua suntuosa Casa Verde. De impecável observação ele teria a nítida noção de que não há como deixar alguém do lado de fora. Estão todos loucos! Insanos! Brigam por um pote de margarina, por uma vaga no estacionamento, por um espaço na rua, por uma vaga na universidade, para o lugar melhor do recinto. Escutam som alto. Embriagam-se e se matam quando um time perde para o outro. Oh! O senhor Simão Bacamarte deveria frequentar mais estas bandas que estão abaixo do Equador. Parece-me que ele desistiu de aplicar o seu método aqui, logo aqui onde teria um sem número de cobaias humanas... Acho-o receoso com tanto material disponível. Coisa estranha não! Talvez ele também tenha um q de maluco como disseram. Como ele mesmo pensou.
Mas uma coisa eu penso ser certa: ele parece ser um cidadão de palavra. Logo que ele se aplicar a estudar estes casos não terá dúvidas: tem um monte de louco nestas grandes cidades do Brasil. Loucos contidos e outros que não conseguem mais conter a sua voracidade. Um dia de fúria? Que nada! Vários dias! A normalidade hoje é você "brigar" por seus direitos e entenda este brigar como literal!
Termino este texto com um pedido ao doutor Simão Bacamarte. Reveja bem a sua atitude de se internar como louco. O senhor não é louco. Olhe bem para onde estou e veja quem definitivamente é louco. Tão louco que rasga dinheiro para fumá-lo e que acha que os seus direitos são intermináveis. Vejam os loucos que estão de colarinho. Vejam os loucos que usam do seu potencial para asneiras e fazem tudo a torto e a direito e veja como isso irá acabar. Eu não sei, mas acho melhor preparar a casa verde porque vão ter muitos pacientes à vista. Olhe o que estou lhe dizendo!