PAPAI E SUA SEGUNDA FAMÍLIA
Voltando às histórias contadas pelo papai, além de pedreiro, agricultor e comerciante, a partir de 1.955 ele resolveu ser também frentista e caminhoneiro. Foi um desastre em dois sentidos para a família, cuja situação financeira e patrimonial já estava ruim.
Ele comprou um caminhão azul, marca Chevrolet Brasil, ano 1.951, movido à gasolina, com lataria encorpada e forte.
- Era o que havia de mais moderno, com motor de arranque à explosão ao invés do motor à manivela - contou-nos ele aos noventa anos, ainda feliz por ter possuído aquele veículo.
O primeiro desastre veio porque esse “maravilhoso bem” passou a constituir-se mais uma família para sustentar. O caminhão “quebrava” constantemente e a oficina levava mais da metade da renda da família. Mamãe ficava desesperada com aquela situação e tornou-se comum presenciarmos intermináveis discussões em casa, isto quando ele aparecia por lá. Ela acostumou-se a dizer que quando ele não “sumia no mundo” deixando-a preocupada, “estava na oficina” gastando o pouco dinheiro que possuíamos.
O outro desastre era desastre no sentido lato da palavra. Volta e meia o caminhão capotava, caía em barrancos, ficava atolado em lamaçal - tudo porque o motorista e proprietário e seus eventuais ajudantes ou clientes insistiam em acomodar cargas de forma inadequada ou tentavam transportar carga maior do que o bom senso aconselhava.
Papai conta que certa vez estava saindo da casa na fazenda em seu caminhão para ir à cidade buscar sacaria para o arroz recém-colhido, quando Geraldo, o organizador de uma festa em Barreirinho, o interpelou:
- Você pode levar uns engradados de bebida daqui até o local da festa?
- Não, não posso porque estou indo à cidade buscar a sacaria - respondeu.
No entanto, diante da insistência do amigo, carregou o caminhão com a mercadoria e foi na direção de um lugar denominado Barra. Quando trafegava pela estrada de chão batido, viu um ônibus, que fazia aquela linha, estragado no caminho. Os passageiros, já cansados e sem perspectivas de saírem dali tão cedo foram saltando para dentro da carroceria do Chevrolet, mesmo com este em movimento reduzido. E lá se foi o único transporte em condições de circular naquele momento, levando aquela carga mista de gente e garrafas, que pendia mais para o lado direito.
Próximo ao campo de aviação, o caminhão capotou e garrafas, cervejas, engradados e gente se misturaram à terra arenosa da estrada.
- Carlos, meu filho, e o compadre David estão debaixo da carga - gritava papai desesperado.
Com o esforço de todos que haviam se salvado inteiros, a carroceria foi recolocada em posição normal. Por sorte, ambos os desaparecidos foram retirados com vida, embora muito machucados.
- Os demais passageiros sofreram fraturas, escoriações, mas graças a Deus ninguém morreu - relatava ele conformado.
Em outra oportunidade, o fotógrafo José de Brito encomendou ao papai um caminhão de lenha. Ele resolveu ir sozinho buscar a mercadoria em uma roça deserta. Carregou o caminhão debaixo de chuva, sem ajuda. Quando tentou passar com a carga por um mata-burro, a grade de madeira cedeu e a roda traseira ficou presa no vão. Embora chovesse a cântaros, ele teve que descarregar a lenha para conseguir tirar o caminhão do buraco e depois recolocar tudo de volta na carroceria, entregando a encomenda molhada ao cliente no dia seguinte.
Papai relata pelo menos mais dois acidentes semelhantes entre Catalão e Uberlândia ao transportar algodão, e entre Catalão e Brasília ao transportar mercadorias para vender nas feiras livres.
Depois de muita teimosia por parte dele, mamãe conseguiu convencê-lo a se livrar daquela sua segunda família, o meio de transporte mais moderno do mundo, do qual se orgulhava e que nos tornou mais pobres do que já éramos.
Ele comprou um caminhão azul, marca Chevrolet Brasil, ano 1.951, movido à gasolina, com lataria encorpada e forte.
- Era o que havia de mais moderno, com motor de arranque à explosão ao invés do motor à manivela - contou-nos ele aos noventa anos, ainda feliz por ter possuído aquele veículo.
O primeiro desastre veio porque esse “maravilhoso bem” passou a constituir-se mais uma família para sustentar. O caminhão “quebrava” constantemente e a oficina levava mais da metade da renda da família. Mamãe ficava desesperada com aquela situação e tornou-se comum presenciarmos intermináveis discussões em casa, isto quando ele aparecia por lá. Ela acostumou-se a dizer que quando ele não “sumia no mundo” deixando-a preocupada, “estava na oficina” gastando o pouco dinheiro que possuíamos.
O outro desastre era desastre no sentido lato da palavra. Volta e meia o caminhão capotava, caía em barrancos, ficava atolado em lamaçal - tudo porque o motorista e proprietário e seus eventuais ajudantes ou clientes insistiam em acomodar cargas de forma inadequada ou tentavam transportar carga maior do que o bom senso aconselhava.
Papai conta que certa vez estava saindo da casa na fazenda em seu caminhão para ir à cidade buscar sacaria para o arroz recém-colhido, quando Geraldo, o organizador de uma festa em Barreirinho, o interpelou:
- Você pode levar uns engradados de bebida daqui até o local da festa?
- Não, não posso porque estou indo à cidade buscar a sacaria - respondeu.
No entanto, diante da insistência do amigo, carregou o caminhão com a mercadoria e foi na direção de um lugar denominado Barra. Quando trafegava pela estrada de chão batido, viu um ônibus, que fazia aquela linha, estragado no caminho. Os passageiros, já cansados e sem perspectivas de saírem dali tão cedo foram saltando para dentro da carroceria do Chevrolet, mesmo com este em movimento reduzido. E lá se foi o único transporte em condições de circular naquele momento, levando aquela carga mista de gente e garrafas, que pendia mais para o lado direito.
Próximo ao campo de aviação, o caminhão capotou e garrafas, cervejas, engradados e gente se misturaram à terra arenosa da estrada.
- Carlos, meu filho, e o compadre David estão debaixo da carga - gritava papai desesperado.
Com o esforço de todos que haviam se salvado inteiros, a carroceria foi recolocada em posição normal. Por sorte, ambos os desaparecidos foram retirados com vida, embora muito machucados.
- Os demais passageiros sofreram fraturas, escoriações, mas graças a Deus ninguém morreu - relatava ele conformado.
Em outra oportunidade, o fotógrafo José de Brito encomendou ao papai um caminhão de lenha. Ele resolveu ir sozinho buscar a mercadoria em uma roça deserta. Carregou o caminhão debaixo de chuva, sem ajuda. Quando tentou passar com a carga por um mata-burro, a grade de madeira cedeu e a roda traseira ficou presa no vão. Embora chovesse a cântaros, ele teve que descarregar a lenha para conseguir tirar o caminhão do buraco e depois recolocar tudo de volta na carroceria, entregando a encomenda molhada ao cliente no dia seguinte.
Papai relata pelo menos mais dois acidentes semelhantes entre Catalão e Uberlândia ao transportar algodão, e entre Catalão e Brasília ao transportar mercadorias para vender nas feiras livres.
Depois de muita teimosia por parte dele, mamãe conseguiu convencê-lo a se livrar daquela sua segunda família, o meio de transporte mais moderno do mundo, do qual se orgulhava e que nos tornou mais pobres do que já éramos.