Às mulheres que passaram pela minha vida
Não tenho lembranças de quando elas chegaram, ou quando foram embora, de todas guardei um pouquinho, de todas tenho um pouquinho.
As primeiras que apareceram não me lembro mais dos nomes, houve Cidas e Marias que gostavam que brincássemos no quintal, e elas no portão de prosa com vizinhos ou namorados de plantão.
Houve uma de passagem relâmpago, que havia sido abandonada por ter tido uma menina e admirava meu pai por sustentar quatro filhas... o purê de batata mais gosmento foi o dela, horrível.
Depois vieram a dona Rosa, ascendência japonesa, que me ensinou a escolher legumes e a dona Ilda, mais cuidadoras de minha mãe do que de nós. Nunca haviam entrado em shopping centers e eu me lembro que tive que busca-las uma por uma assustadas na escada rolante que não conheciam.
Da Marina de risada alta me lembro da vela amarela que comprei para combinar com o meu castiçal de louça.
"É amarelo desespero, e deu aquela gargalhada."
Tomava toda a pinga ou licor de cozinha que encontrava pelo caminho...
Da Heleneusa de blusa decotada e shortinho de helanca, dizendo "a menina está apaixonada" ou "ele está caidinho pela menina".
Me lembro dela chorando, pois o filhinho havia nascido bem escurinho e o marido além de abandoná-la havia batido nela. Era uma mulata bem clarinha e o ex também...genéticamente possível além dela jurar de pés juntos . Voltaram tempos depois, e nasceu uma menininha tão clara como eles...sempre me doía ver o menininho, tão solícito, quase servil, cuidava da irmãzinha com muito amor.
A Adelina já era velhinha quando a conheci na casa de minha tia. Fazia o que podia, além de sustentar as inúteis filhas moças, sustentava os netos que apareciam de tempos em tempo. Sabia como ninguém fazer uma feijoada completa e um doce de mamão verde com coco ralado. Delícia!
Nesse mês de maio, com tantos artigos sobre as mães, decidi homenageá-las. Elas todas foram importantes, um pouco de mãe para mim.
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