Sombras da noite

Sombras da noite

Você não percebe que está isolado em um mundo metro quadrado e que nele não cabe o seu espaço criativo infinito? Percebe? Você está isolado, também, dentro de você e, por isso, há uma explosão de “eus” e essa é catastrófica para o corpo do Poeta humano. Não, não fale assim! O corpo não é, apenas, a casca podre da espécie. Para quê se arrebentar pelos breus da criação e tropeçar no acaso escrito em palavras de criatividade? Entendo! Você não quer ser em vão! Mas, por quê? Sei! Você não quer terminar feito tantos que, apenas, consomem o tempo e a vida, mas não propagam o espaço e nem produzem tempo e nem vida (Homens que jamais saberão ser um deus).

A mesa farta e você se lambuzando com as suas solidões! O quê? A prato cheio? Hum! Você prefere se oferecer de alimento a saciar-se com as ofertas vazias oferecidas pela vida. Compreendi! Como pode ser desse jeito? Percebi! Você é um Poeta que busca no silêncio o grito homérico das palavras escondidas na escuridão da noite. Você é mesmo louco! Louco de dar inveja ao mais “lúcido sadio doente de vida”. O bom é que você ri de tudo! Sei! O choro é sincero e o riso é estranho; é algo que não se pode decifrar. Como assim! A gargalhada é uma Monaliza. E o choro? O choro é só a encenação da fragilidade querendo o apoio da fraqueza. Céus! Você é de dissecar!

Você já se viu perdido na madrugada? Hum! Não entendi! Na verdade, você se encontra nela e está na busca de um caminho que você mesmo está abrindo com sua palavra de Poeta. Certo!

E as noites de solidão? Quanta tortura você suporta no vazio? Você se flagela em busca de algo que, muitas vezes, está no limbo, onde é preciso descer aos infernos para, logo em seguida, renascer em um eldorado criativo. Você faz da noite a aliada e a insônia passa de algoz a amiga fiel do Poeta. Entendi! Você é um solitário com um mundo interno vasto e populoso, no qual, as personagens constroem enredos e você, apenas, contribui para que as vozes sejam ouvidas através de sua obra. E por que na madrugada? Hum, hum! Só se pode construir a partir do vazio; o tudo, esse já está completo. Como assim? É isso mesmo? Todos caminham para a totalidade e você quer entender as lacunas que estão a olhos vistos, mas só no escuro se pode ver a luz desse vazio. Que paradoxo!

Na solidão da noite, você bebe a cântaros o quê? Dúvidas? Entendi! Você engole a seco as verdades e regurgita suas dúvidas. Compreendi! A dúvida é a porta de liberdade para o homem.

E a insônia! Você gosta? Sim? É, talvez, as suas olheiras e a boca aberta durante o dia, sejam a sua cruz, Poeta! Hum, lá vem você com esse papo. A cruz é do Messias e a angústia é do Poeta. Entendi, entendi! Ambos têm a sua missão; um, venda os olhos e o outro procura arregalá-los. Entendi tudo!

Você é o seu próprio algoz e ninguém, ninguém, a não ser a palavra pode lhe condenar a alguma coisa. E em quê a palavra pode condenar? Sei! Quando ela não encontra eco e morre rascunhada por ignaros e deturpada por sábios. Só rindo! Você procura o método mais difícil; o leite não jorra das pedras e nem pérolas devem ser jogadas aos porcos!

A sua solidão é a sua prisão! Você está condenado a viver em um “Leito de Procusto”, mas, entenda; você se moldou para se encaixar no jogo da vida. Seus membros foram amputados para não gesticular e apontar caminhos que mudem a orientação do norte determinado. Você é o filho da escuridão e, apenas nela, você encontra a companhia para as suas criações profícuas e prolixas.

Você está cada vez mais sozinho em sua jornada e isso é fato! Você ainda diz, e daí? Olhe! Cada um aguenta o chicote conforme as costas que tem! Tudo bem! Entendo! Mas sua estrada escura deixa luzes para outros que veem logo atrás, mas, há tantos vícios de certezas que eles tropeçam ofuscados pela sua luminosidade. Você está preso nas sombras da criatividade, mas a sua luz resplandece feito uma “Gigante Vermelha”. Sarcástico! Para te ver só com óculos escuros! Sei! Fanfarrão!

Mário Paternostro