RUY MESQUITA SAI DA VIDA PARA ENTRAR NA HISTóRIA.
 
O “ESTADÃO” neste mês,ao que soube,teve duas baixas,no linguajar militar, seriam os mortos,os que se vão. Um o “dr” Ruy Mesquita,que era o presidente-intelectual do conglomerado de rádio e jornal. Outro, foi o velho empregado, também jornalista, Alberto Tamer,com quem não tinha muito contato.Ambos estavam na faixa dos 80 anos...”Dr” Ruy Mesquita não terminou o curso de Direito da São Francisco,como eu, preferiu outra Faculdade...mesmo assim era “doutor”. O nosso País realmente tem muitos doutores e bacharéis...alguns valem mil-réis. Não é o caso desse nosso ‘dr’ Ruy Mesquita,que teve “status” merecido de intelectual e jornalista profissional.
Muito embora entrei no “ESTADÃO”,por volta de 1963,antes pois, da chamada “Revolução de 64”, conheci  ambos, o jornalista-patrão e o jornalista-empregado. Ficavam relativamente distantes da minha área que era da Reportagem Geral,onde estava à frente,como chefe, o grande colega Natal Sartoretto,na época estudante de Medicina e, entendia muito de jornalismo. Era também empregado- “free lancer”- de um laboratório farmacêutico,onde editava as chamadas bulas,traduzindo-as para o nosso vernáculo,pois,certos medicamentos vinham do Exterior.Formou-se Cardiologista,mas ao que parece não chegou a clinicar.Do Brasil, foi direto para o laboratório na França,(sede)onde se tornou até diretor. Era muito capaz e versátil...Morreu prematuramente anos mais tarde,num acidente automobilístico,quando seu motorista colidiu com outro veículo,em Paris.Falava diversas línguas.Um grande amigo que tive.Colega e irmão,que se foi também,antes dos dois já referidos nessas primeiras linhas...
Enquanto ao tempo trabalhei no ‘ESTADÃO’ na época na rua Major Quedinho,centro de São Paulo,o jornal era uma penca de gente de elevada erudição, parecendo um grupo de pessoas de várias nacionalidades, tendo austríacos,franceses,norte-americanos,inclusive brasileiros...e o diretor- presidente na época era Julio de Mesquita Filho, homem circunspecto,calado,tinha ao que se dizia úlcera no estomago e às vezes o humor estava em baixa...mas sempre polido e educado. No entanto, por outro, no “aquário” –como era chamada a sala envidraçada da diretoria- ficava ao lado dos jornalistas (Redação) e víamos uns aos outros,sem que as conversas vazassem...
Lá no meio de todos ou quase todos estavam dois mais chegados aos jornalistas: o “Carlão”     Mesquita, como era chamado,(também já falecido,há anos) e o Ruy  Mesquita, mais sorriso e mais conversa de igual para igual. Valia a pena um papo descontraído com o patrão,que tinha um probleminha na perna,não se sabendo se foi acidente ou fato congênito.Mas a cabeça de Ruy Mesquita era boa,falava com fluência e conquistava os “proletários” da notícia. Ele dizia que na juventude tinha sido comunista e que seu pai, o velho,fundador o reprimia por tal atitude. A rigor era um homem liberal,democrata e aberto ao diálogo...diferente de Mesquita Filho, mais fechado e pouco papo.
Eram poucos os jornalistas que entravam no chamado “aquário” da Diretoria, mas me lembro bem que com a chegada do golpe militar, apoiado  pelo jornal,na época, Natal Sartoretto deu-me uma missão bem difícil e espinhosa,embora fosse repórter...Foi receber uma comitiva de censores para atuar no jornal, todos com bolsas pretas,esperando no saguão, alguém da diretoria. Natal me disse que a Diretoria não iria recebê- los e que,o jornal não “precisava de censores,até porque era a favor da Revolução de 64”. Isso foi a minha missão...Eram cinco ou seis homens...  que aceitaram o meu argumento,embora fosse a pessoa mais frágil para dizer aquilo...mas dada a missão...missão cumprida. Só depois que deixei o jornal é que a censura entrou para valer no ESTADÃO, eis que a Diretoria montou sua artilharia contra as arbitrariedades cometidas, que a gente já sabe e está cansado de ouvir.
Pelo número de falecidos aqui, esta crônica mais está para um necrológico... Sai de baixo, meu irmão.Vamos para frente que atrás vem gente!