Acocorada na feira ela traça sonhos e trança palha de carnaúba para fazer chapéus. Após um pedido para fotografá-la, seguiu-se um monólogo cheio de verdades,de desejos ocultos, de esperanças finas qual alfenins.
" Pois é, dona, sou chapeleira desde os cueros. Já cobri muita cabeça, já amansei o sol desse sertão com meus chapéus. No começo minhas mãos eram ligeirinhas como um raio. Os chapéus iam saindo, saindo... Nunca pedi muito pelo meu trabalho, também ninguém tinha pra pagar. O sertanejo só tem o dia e a noite. Se chove come, se não, espera. Hoje me vejo aqui... A dona sabe que paia corta? E que nem navalha... Pois é... Olhe meus dedos. Quando chega a noite e eu paro, tenho que botar os dedos na salmoura para aguentar dormir. Farei isso até que um dia meu sonho aconteça. Sonho com meu aposento. Não sei o que houve, ele engalhou-se nos homens grandes. Quando sair, vou comprar feijão do bom e farinha amarelinha, aquela que os ricos comem".
Engoli as lágrimas. Que criatura é essa, de onde vem essa força que a faz esperar eternamente, ainda a faz acreditar que um dia vai comer feijão do bom e farinha que os ricos comem?
Será que existe justiça para essa mulher de cabelos brancos, de maõs cortadas e cansadas que sonha com nada mais que a realização de um sonho... Um pequeno sonho de tecelã.
Infelizmente não tenho respostas, apenas questionamentos. Como é tímido o sonho dessa mulher tão forte que bem poderia ser o símbolo do sertanejo...