A poesia.
Ao focalizar uma arte, com minúcia, coloco no ápice delas a poesia, como expressão suprema da alma humana. Nada espelha melhor a ideia dominante de uma época. Por vezes é graça e suavidade, doutras vezes, simplicidade e potencia; ainda, profundidade de espírito puro, ou então, ouropel vazio de forma. Exprime sempre o pensamento humano que ascende ou decai, aproximando-se mais ou menos da grande ordem divina. O pensamento que ora ousa, ora repousa, ora jovem, ora cansado, é primeiramente retilíneo e cortante como a força, depois, arredondamento de linhas, um esforço em descida, um inútil escorar-se do vazio na grandiosidade das formas. Estilo tranquilo ou audacioso, límpido ou confuso, cansado ou poderoso, representa sempre a face exterior da alma humana, do mistério do infinito que nela se agita. Como tudo que existe tem um rosto, expressão de alma, uma revelação do pensamento divino em que o universo fala incessantemente, assim a poesia é revelação de espírito, tanto mais valerá quanto mais a forma for transparente e simples. Quanto menos se fizer sentir a si mesma, tanto mais a ideia será substancial e poderosa na eternidade, vinculada à lei impondo-se à forma. Fenômeno estreitamente ligado às fases ascensionais ou às evoluídas do espírito, a poesia apaga-se quando o espírito adormece, porque só nele reside sua inspiração. A poesia é espírito e a matéria a mata. O materialismo quer matar, mas ela sempre renasce...
Começar de novo com meios novos, mas acima de tudo, com uma ideia nova. O segredo de uma grande poesia consiste em saber realizar o milagre da revelação do mistério das coisas; em saber exprimir à luz dos sentidos, após intima e profunda comunhão com o mistério que palpita na alma do poeta. Este sempre vidente, normal no supernormal, onde tudo é espírito e vossa concepção de vida comum não chega. A grande poesia é integral: presume o artista total, o super que realizou sua maturação biológica; não o agnóstico, o meramente técnico, mas o espírito completo sob todos os aspectos. É que o homem tenha englobado em si a visão do universo, nela tenha atingido as mais profundas concepções de vida.
Nossa poesia é sadia, educadora, descida de Deus para o homem. Se assim não for, será veneno. A poesia que permanece na Terra é verdadeira poesia, sempre eleva ao céu, ser instrumento de ascensão espiritual. Deve beber nas fontes da verdade escancarando suas portas. A poesia ilumina-se com a luz do espírito e revive entre nós. Dar-nos, tanto no campo cientifico e social, quanto no campo artístico, uma ideia imensa para exprimirmos: a harmonia de todos os fenômenos, da ascensão de todas as criaturas, e a de nosso amadurecimento biológico. A poesia apodera-se da ciência. É verdade que não soubemos dar a esta um conteúdo espiritual; dar-lhe, contudo, uma fé e ela se torna poesia. Que mundo grande, novo, inexplorado, que sinfonia de concepções cósmicas para exprimir! A nossa poesia está na expressão do imponderável. Que riqueza de inspiração que desce sobre a Terra, vinda do alto, pelo intermédio do poeta sensitivo! Que oásis de paz, para refugio da alma, nessas visões do infinito...