Todo mal no Brasil pode ser bem.

Eu estava assistindo a uma aula de Sociologia quando a abnegada professora, de formação duvidosa e de inteligência ainda mais complexa, afirmou categoricamente: - 1964 foi uma revolução social. E não esperem que tenhamos em breve esta mesma "ordem" para colocar os pingos nos is por aqui pelo Brasil. Eu - juro solenemente a vocês - fiquei estático e estupefato e fui correndo consultar a coleção de ditadura do Elio Gaspari e dei de frente com o volume "Ditadura Escancarada" e o abri lendo a seguinte frase: "Escancarada a ditadura firmou-se. A tortura foi o seu instrumento extremo de coerção e o extermínio, o último recurso de repressão que o Ato Institucional n° 5 libertou das amarras da realidade". Logo eu me peguei matutando e maturando comigo mesmo: Não é possível que uma frase dessa seja ficção. O tal AI-5 é verdadeiro. A tal professora só pode estar delirando e matando a história - assim como assassina a língua portuguesa ao falar de coersão e não de coerção.

Saí desiludido. O Brasil além de não ter memória, não tem gramática e nem bom senso. Todo mal no Brasil pode ser bem ou pode ser transformado em tal pela vontade de alguém. É como se eu desse um mergulho nos principais problemas tupiniquins e os visse como resultado desta máxima: no Brasil há males que se vestem de bem. Vejam o mensalão, por exemplo, de um lado ele se torna algo impuro e por outro puritano. Maldito e explicado, na cartilha infame do politicamente incorreto, como leve desvio de conduta. É amigas e amigos! As coisas no nosso país funcionam a fogo morno e na base do "me engana que eu gosto" a ponto de, numa Instituição de Ensino, golpe militar se tornar defesa pública e cínica da moral e dos bons costumes. Não brinque com a pestilência da mente humana! Ela pode grandes proezas!

Tomara que, acima de tudo, eu não passe por mais esta decepção, porque senão eu irei ter que recorrer ao "pai dos burros e dos incrédulos", o dicionário, para não passar vexame. Abrindo no verbete "Golpe" ele nunca me parece defensor da ordem pública e nem aparece como preocupação de pessoas sérias e idôneas. Mas as pessoas conseguem, com alguma força de vontade, mover montanhas e distorcer realidades até para fazer boa uma das páginas mais medonhas e grotescas da história da humanidade.

Não, eu não estou bêbado nem sob efeito de uma droga pesada que me turve ou tire os sentidos! Eu pude presenciar, não sei se de forma agradável ou como um trauma profundo e irreversível, que para cada pé um meia e para cada insanidade uma desgraça pior. Mesmo sob "coersão" intelectual e pura lavagem cerebral eu atesto a ignorância grotesca e enorme a qual estamos submetidos. Tristes trópicos e tristes revoluções, ops, golpes militares que só nos fazem ver quanto há males que se fazem bens no Brasil...

Tato Silva
Enviado por Tato Silva em 19/05/2013
Reeditado em 19/05/2013
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