Meu melhor amigo

Ben nunca foi muito de demonstrar o seu amor. Era meu amigo desde o jardim de infância e eu nunca sequer tinha pego em suas mãos. Mas eu não tinha do que reclamar. Ele sempre estava comigo, desde quando eu ralava meus joelhos quando pequena, até as mais arriscadas encrencas na juventude. E seria sempre assim.

Com os seus olhos claros e suas sardas colorindo estranhamente suas bochechas brancas, ele tinha a paciência de me ouvir durante horas, e fazia isso com muita facilidade. Eu acho que foi esse um dos motivos que levaram a Ben, com a medida dos anos, a se tornar o meu mais fiel amigo. Naquela tarde de primavera, eu nunca tive mais certeza disso. Ben e eu passamos a maior parte do tempo deitados na grama de barriga para cima, próximos a árvore que nós mesmos plantamos, há quatro anos. O Sol aquecia nossos corpos de uma maneira gostosa, e a presença dele ao meu lado só tornava o momento ainda mais marcante. Quando nossos assuntos pareciam ter acabado, o silêncio se estabelecia, mas de forma alguma nos incomodava. Quatro meses depois disso, nós iríamos para a faculdade, cada um para um canto, cada um iria tomar o rumo da sua vida. Só de pensar nisso, eu ficava inquieta. Não podia pensar em perder o meu melhor amigo.

- Ben?

- Oi?

- Daqui a pouco tempo iremos para a faculdade.

- Não precisava me lembrar - E se virou para mim, sorrindo.

- Bem, iremos nos separar.

Ele se sentou e pareceu escolher as palavras calmamente:

-Anne, você se lembra daquele trecho no Pequeno Príncipe que diz: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”?

Respondi que sim com a cabeça.

-Não importa quanto tempo passe, e o quão distante ficaremos um do outro, eu sempre serei responsável por você e você sempre será responsável por mim. E independente de quantos anos vierem, eu sempre me lembrarei de você como aquela garotinha de trancinhas que usava meias estranhas no jardim da infância. Você é a melhor amiga que alguém poderia ter, Anne.

Um vento passou forte.

-Eu te amo, Ben.

Ele apenas deitou na grama de novo, dessa vez fechando os olhos como se estivesse distante.

-Ben?

-Hum?

-Eu não usava meias estranhas.