Apresentação
Apresentação
Cala a boca! Você não percebe que pode ser tachado de louco, pois enxergar além, além, além do quadro e sua figura estática, provoca e causa incômodos? Vamos lá! O que você pretende escrevendo, escrevendo...? Não, isso não é resposta! Querer apontar a estrada e mostrar que nela há mais caminhos, isso é balela! Cada qual tem a sua bússola de vida interna e a estrada é caminho de quem a trilha.
Cala a boca, louco! Você se diz, mas quem lhe escreve? Arregale os olhos e veja que nada mudou depois de você. As coisas continuam na mesma ordem, tudo obedecendo ao determinismo do mundo fabricado por homens; sempre as mesmas verdades e certezas... Não, isso não me convence! Você diz que procura a liberdade, mas está preso em discursos vanguardistas que, nesse tempo, não terão eco. Preparar caminhos é para o Messias e você nada mais é que um Poeta, um servo das palavras. Tudo bem! Eu sei que as palavras te adoram e que, muitas vezes, você cheira a poesia, mas meu caro, você perde o jogo para a rapidez da vida, para o atalho do mundo e as superficialidades teóricas que teimam em sustentar o complexo.
Você pensa que é o quê? Pense, Poeta! Você é fruto dessa sociedade, serve também da mesa que o capitalismo põe e só por que entende a essência e o ser, julga-se no direito de ser colírio dos outros? Compreendo, sei o que irá dizer! Você não quer ser nada, quer apenas que todos vejam que a engrenagem da existência está corroída e que tudo começa e termina em uma fé carregada de promessas. Sei que condena quem recebe as ordens e obedece sem refutar, sem mesmo procurar o sentido do discurso; sei que irá dizer que tudo não passa de uma imitação e que as pessoas são o que são, porque não sabem o que, realmente, deveriam ser; sei que escreve sem interesses e nem maiores ambições capitalistas, mas também sei que adora um piropo e vai às nuvens quando é elogiado. Você é um egocêntrico! Não precisa se justificar. Já sei que irá dizer que a modéstia é a mentira e que só os covardes a usam. Você tem seu valor, senão, como seria aplaudido por muitos e odiado por tantos? Só o amor e o ódio são sentimentos, o resto é apenas mediocridade que o ser humano inventou e chamou de emoções.
Cala a boca, louco! Em um mundo que corre para frente, em um tempo que não respeita o que já se passou, em uma memória que vive “deletando”, você ainda quer ocupar o espaço-tempo com informações que nem sábios e nem tolos irão se interessar? Vade retro, Poeta! Escrevo Poeta com letra maiúscula, pois percebo que preza muito a poesia e por respeito a ela eu respeito você. Tenho pena de você! Um ser com olhos de lince e não consegue enxergar o apedeutismo em Caps Lock estabelecido. Nem todos estão prontos para ver o que só você percebe. Alguns lhe chamarão de arrogante, outros tantos, de esnobe e eu grito que é louco. Louco com o peso pesado que a palavra tem, com toda a carga semântica e com todos os pejorativos que ela carrega. Mas, você é livre, não está preso, você corre e voa pela vida, por isso, recebe, aqui, meus aplausos. Aplausos! Ficou alegre, foi? Não fique! Você está corrompido por conceitos e códigos que jamais serão decifrados. Muitos procuraram libertar os seus, e digo, até maiores que você e não conseguiram nem passar as chaves. E você, pobre mortal, pensa que pensa que irá abrir alguma cadeia para que saiam das alcovas os prisioneiros da escuridão? Tolo pensamento! Escapou da “caverna”, mas há muitos que não estão preparados para a luz e logo serão ofuscados. Quão arrogante é!
Cala a boca, louco! Guarde as ideias, recolha a caneta e siga a vida sem querer ser cão guia dos outros. Os cegos sempre irão existir e eles servem tão bem para a existência. Entendi! Que seria do mundo se todos enxergassem com olhos de “sentidos”? Sei que é orgulhoso, vaidoso... Saiba que, assim, torna-se fraco e vulnerável como tantos. Sei, sei. Vai responder que a vaidade veste quem tem o que mostrar e o orgulho é a defesa contra os néscios-intelectuais; tais indivíduos nascem para ter dedos em riste e morrem com os dedos recolhidos de vergonha.
Calado! Não fale nada! Você é um louco desvairado, sonhador inveterado e tudo que se pode atribuir a quem quer mudar a forma que tudo foi imposto. A sua grandeza nada tem de humildade, mas tem tudo que ver com sua personalidade, com sua autoestima altíssima. Seu jeito irrita, seu olhar provoca, sua palavra incomoda, sua, seu,... Tudo em você parece, meticulosamente, calculado. As palavras lhe procuram, pois sabe que é o melhor emissor que elas poderiam encontrar nesse tempo de ignorância pensativa.
Cala a boca e pronto! Eu pontuo da maneira que eu quiser e não é você que irá dizer o que eu devo fazer. Estou calmo, não estou nervoso! Seu sorriso cínico é que me irrita, seu olhar de viés me provoca. Por que querer contestar tudo? Sei, sei. Sei que não aceita as mudanças de súbito e que procura, ainda, analisar as partes e encontrar o todo. O quê? O todo jamais é completo? Entendi! Mas sei que caminha além do tempo e que de longe coloca marcas no caminho para ver se alguém te encontra. Mas você percebe que você já se perdeu? A partir do momento que encontrou a liberdade, as chaves da existência, você ficou só e perdido em um mundo cheio de prisões e palavras de ordem. A ordem que você não quer obedecer é a lei da vida para manter tudo em seu devido lugar.
Recolha-se! Para quê se expor? Entendo! As pedras que lhe atiram você constrói o alicerce para as suas teorias. Como é presunçoso! Você me irrita! Mas gosto do seu jeito, pois sei que, assim, jamais irá ficar mediando e nem tolerando discursos que não acrescente em nada para a vida. Percebo que, mesmo calado, ainda grita a repulsa e condena com o olhar o que teima em ficar na imanência. Por que riu? O quê? Riu porque gosta de estimular a revolta através de palavras que você compõe – como mesmo diz, magistralmente - para desestruturar conceitos e normas. Você é um sujeito arrogante e pretencioso! Mas, tudo bem!
Resumindo. Você é o que você é e pronto e quem quiser lhe ter apreço que tenha e o odeie quem puder. Mas, percebo que não quer a mediocridade da vida e, tampouco, sentimentos pela metade. Entendi, agora! O que o mundo quer é menoscabar o ódio e valorizar, em demasia, o amor e você afirma que os dois têm o mesmo valor e, que ambos, se completam. Eu lhe odeio, mas, também, lhe amo!
Mário Paternostro