“Somos tão jovens”
Que esteja escrito em minha lápide:
Menina demais, ego demais, falta de mais. Falta de dar o braço a torcer. Abundância de selvageria orgulho e arrogância. Sou tão jovem- pensara a moça olhando na janela do metrô.
Ela engolia seco o nó na garganta, desejava ser insana ter todo o tempo do mundo só para ela. Era egoísta e sozinha, e sabia disso.
Tão tola tão fútil e tão cega. Era mais uma que focava só a pintura luxuosa da vida e esquecia as fotos da realidade. E ela sabia disso. Revoltava-se contra a alienação, contra a violência e contra a injustiça, mas apenas no olho de quem ela via, no outro. Reprimia sua humildade e inflava o ego. Era tão jovem. Era tão só.
Morria de amores, vivia ilusões, estava sempre pronta a se mostrar. Era tão manipulada, mas escutava músicas de mudanças. E ela olhava as luzes da cidade na janela do metrô sem um pingo de umidade nos olhos planejando a junção dos poemas.
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar
Preste muita atenção:
Não se esqueça do tempo do mundo
Não temos tempo a perder
Não seja convencido a ser amigo
De quem leve tudo embora
Lembre-se que o futuro não é mais
Como era antigamente
Se olhe no espelho
E veja um mundo doente
Mas se acalme
O vento vai levando tudo embora
Aja certo sem querer
A vida continua
E se entregar é uma bobagem
Porém, se quiser alguém para amar
Se esqueça
O mundo não vai dar...
Juntou assim Milton, Renato e Cícero no que seria uma noite de choro. Pediu apenas que sua loucura fosse perdoada. Decidiu não derramar mais nenhuma lágrima, nem a quem amava. Se jovem já via o frio, a vida lhe mostraria o gelado. Deixou pra lá, afinal metade dela era amor, e a outra metade, também.