Há bem pouco tempo escrevi uma crônica na qual dizia que não suportaria mais cortejo em minha vida. Enterrei mamãe e logo mais o meu marido. É o meu pensamento que Deus nos bota em prova e devido a isso devemos cuidar do que falamos vez que, a palavra tem força. Escrita então, nem se fale.
Há dois meses meu mano mais velho - um ano mais velho que eu, foi acometido de um enfarte. Foi forte, e o socorro demorou segundo o médico. Roberto, meu mano, morava em São Pedro há 30 km de onde moro, Piracicaba. Roberto ficara internado na Unicor da Santa Casa, aqui em Pira, bem próximo à minha morada.
Devido à família grande que tenho, eu era incumbida de selecionar as visitas na UTI. Tínhamos dois horários, um à tarde e outro à noite, e poderia entrar sòmente duas pessoas.
A equipe médica não nos dava esperança, e ele sabia. Hoje, os médicos acham por bem dizer na presença do paciente seu estado. Não concordo, porém os médicos sabem o que fazem. Quem sabe psicologicamente o paciente reaja e muda para um estado completamente fora de perigo. Quiçá!
Em uma das visitas que fiz ao meu mano travei amizade com a família de um paciente vizinho que estava completamente em coma, naturalmente,desenganado. Orei a ele impondo minhas mãos em sua cabeça.
Meu mano pode ouvir minhas orações onde praticamente eu encomendava a alma do senhor em questão. Porém, o fato é que no dia seguinte havia outro paciente naquele leito, o senhor partira para o além das contingências terrenas.
Engraçado foi, que eu acarinhava a cabeça do meu mano, que dizia:
-Tira essa mão da minha cabeça e não ore porque o homem a quem você orou virou presunto essa noite. Ri muito porque ele falava grosso e sério. Logo mais chegava o médico para dar o triste diagnóstico do meu mano. E junto comigo estava outro mano prefeito reeleito de Águas de São Pedro. Prontamente Roberto disse ao médico:
-Esse é o prefeito de Águas de São Pedro, ao que respondeu o médico:
- Você já me disse duas vezes e com humor no leito da morte meu mano disse:
- Mas tenho que dizer duas vezes porque ele é reeleito, rimos.
O médico dera alta após vinte dias ao Roberto dizendo que ele tinha uma bomba relógio no peito e que a mesma poderia explodir a qualquer momento.
Na alta, papai o levou junto de sua esposa para a casa dele em Águas de São Pedro. As visitas foram inúmeras, essa é a vantagem de uma grande família.
Roberto sentia dores no peito e muita falta de ar. Meus manos trataram de arrumar oxigênio a ele. Mesmo assim Roberto ria, curtia todos os irmãos, fora muito paparicado por papai que aos oitenta e sete anos é um lúcido construtor. Essa semana me apresentou uma planta de uma pequena mansão que vai construir.
Há um mês exatamente recebendo pela manhã em casa a visita médica Roberto dizia:
- O que é isso doutor, o que é isso doutor...
... e faleceu nos braços do médico que tentou reanimá-lo até a Santa casa de São Pedro, mas ele já havia falecido em casa.
Daí, vem a dor ao pensar que éramos oito e agora sete. Roberto é gêmeo de uma mana que mora em Vinhedo, eles nasceram de sete meses pesando um quilo e duzentos gramas cada um.
E nessa crônica me vem a lembrança do quanto meu mano amava sua esposa da raça negra, assim como minha caçula adotiva. Vem-me também a lembrança de que papai falou a ele que assim que ficasse bem de saúde ambos iriam viajar, e meu mano disse prontamente:
-Só se for para Sueli minha mulher ir junto. Ao que papai respondera:
- Ela fica para outra vez. E meu mano disse com rigor:
- Papai, nós dois estamos morrendo, deixa de preconceito e aceita minha esposa como sua nora. Uma lição antes da morte porque papai acolhera Sueli em sua casa dando todo e irrestrito apoio. E agora ao menos duas vezes por semana, papai vai até a casa dela e a ajuda numerariamente ou com mantimentos.
Não encerrarei com lágrimas essa crônica porque pude ver o fim de meu mano mais próximo à família e concomitantemente a família em si, próxima.
Mas a dor não deixa de saltar meu peito ao ver papai chorar ao fechar o caixão. Foi o único momento em que ele se debulhou em lágrimas, um choro doído e curto, sem estardalhaço.
Ficamos agora, mano Roberto, com a lembrança do seu sorriso ao dizer seu cacoete: “nem ligue!”.
Era ele do bem, da paz e de Deus porque era firme e forte na fé. Mas quando olho essa foto que ao visitá-lo entornei vitamina em sua boca, e olhando para aqueles olhos verdes que mamãe nos deixou de herança, penso: Tudo nessa vida é efêmero, o importante é o amor que pude ver e sentir de todos meus manos uns abraçando aos outros, brincávamos com Roberto e saíamos porta a fora para chorar seus últimos dias.
Tudo correu como ele queria. Fosse o enterro em sua própria campa que comprara ano passado. E fez questão de ser filmado ordenando o filho Róbson (o mais ajuizado) como deveria agir em relação à herança a receber de mamãe e de duas casas que deixara. Uma das casas ele próprio deu acabamento de primeira. Para quê? Nada aproveitou.
E nessa crônica que menciono morte de mamãe, de meu marido e desse querido mano penso que perder o homem para o homem é terrível, contudo perder alguém para Deus é ganhar a certeza de que um dia nos encontraremos na claridade da luz celestial.
Há dois meses meu mano mais velho - um ano mais velho que eu, foi acometido de um enfarte. Foi forte, e o socorro demorou segundo o médico. Roberto, meu mano, morava em São Pedro há 30 km de onde moro, Piracicaba. Roberto ficara internado na Unicor da Santa Casa, aqui em Pira, bem próximo à minha morada.
Devido à família grande que tenho, eu era incumbida de selecionar as visitas na UTI. Tínhamos dois horários, um à tarde e outro à noite, e poderia entrar sòmente duas pessoas.
A equipe médica não nos dava esperança, e ele sabia. Hoje, os médicos acham por bem dizer na presença do paciente seu estado. Não concordo, porém os médicos sabem o que fazem. Quem sabe psicologicamente o paciente reaja e muda para um estado completamente fora de perigo. Quiçá!
Em uma das visitas que fiz ao meu mano travei amizade com a família de um paciente vizinho que estava completamente em coma, naturalmente,desenganado. Orei a ele impondo minhas mãos em sua cabeça.
Meu mano pode ouvir minhas orações onde praticamente eu encomendava a alma do senhor em questão. Porém, o fato é que no dia seguinte havia outro paciente naquele leito, o senhor partira para o além das contingências terrenas.
Engraçado foi, que eu acarinhava a cabeça do meu mano, que dizia:
-Tira essa mão da minha cabeça e não ore porque o homem a quem você orou virou presunto essa noite. Ri muito porque ele falava grosso e sério. Logo mais chegava o médico para dar o triste diagnóstico do meu mano. E junto comigo estava outro mano prefeito reeleito de Águas de São Pedro. Prontamente Roberto disse ao médico:
-Esse é o prefeito de Águas de São Pedro, ao que respondeu o médico:
- Você já me disse duas vezes e com humor no leito da morte meu mano disse:
- Mas tenho que dizer duas vezes porque ele é reeleito, rimos.
O médico dera alta após vinte dias ao Roberto dizendo que ele tinha uma bomba relógio no peito e que a mesma poderia explodir a qualquer momento.
Na alta, papai o levou junto de sua esposa para a casa dele em Águas de São Pedro. As visitas foram inúmeras, essa é a vantagem de uma grande família.
Roberto sentia dores no peito e muita falta de ar. Meus manos trataram de arrumar oxigênio a ele. Mesmo assim Roberto ria, curtia todos os irmãos, fora muito paparicado por papai que aos oitenta e sete anos é um lúcido construtor. Essa semana me apresentou uma planta de uma pequena mansão que vai construir.
Há um mês exatamente recebendo pela manhã em casa a visita médica Roberto dizia:
- O que é isso doutor, o que é isso doutor...
... e faleceu nos braços do médico que tentou reanimá-lo até a Santa casa de São Pedro, mas ele já havia falecido em casa.
Daí, vem a dor ao pensar que éramos oito e agora sete. Roberto é gêmeo de uma mana que mora em Vinhedo, eles nasceram de sete meses pesando um quilo e duzentos gramas cada um.
E nessa crônica me vem a lembrança do quanto meu mano amava sua esposa da raça negra, assim como minha caçula adotiva. Vem-me também a lembrança de que papai falou a ele que assim que ficasse bem de saúde ambos iriam viajar, e meu mano disse prontamente:
-Só se for para Sueli minha mulher ir junto. Ao que papai respondera:
- Ela fica para outra vez. E meu mano disse com rigor:
- Papai, nós dois estamos morrendo, deixa de preconceito e aceita minha esposa como sua nora. Uma lição antes da morte porque papai acolhera Sueli em sua casa dando todo e irrestrito apoio. E agora ao menos duas vezes por semana, papai vai até a casa dela e a ajuda numerariamente ou com mantimentos.
Não encerrarei com lágrimas essa crônica porque pude ver o fim de meu mano mais próximo à família e concomitantemente a família em si, próxima.
Mas a dor não deixa de saltar meu peito ao ver papai chorar ao fechar o caixão. Foi o único momento em que ele se debulhou em lágrimas, um choro doído e curto, sem estardalhaço.
Ficamos agora, mano Roberto, com a lembrança do seu sorriso ao dizer seu cacoete: “nem ligue!”.
Era ele do bem, da paz e de Deus porque era firme e forte na fé. Mas quando olho essa foto que ao visitá-lo entornei vitamina em sua boca, e olhando para aqueles olhos verdes que mamãe nos deixou de herança, penso: Tudo nessa vida é efêmero, o importante é o amor que pude ver e sentir de todos meus manos uns abraçando aos outros, brincávamos com Roberto e saíamos porta a fora para chorar seus últimos dias.
Tudo correu como ele queria. Fosse o enterro em sua própria campa que comprara ano passado. E fez questão de ser filmado ordenando o filho Róbson (o mais ajuizado) como deveria agir em relação à herança a receber de mamãe e de duas casas que deixara. Uma das casas ele próprio deu acabamento de primeira. Para quê? Nada aproveitou.
E nessa crônica que menciono morte de mamãe, de meu marido e desse querido mano penso que perder o homem para o homem é terrível, contudo perder alguém para Deus é ganhar a certeza de que um dia nos encontraremos na claridade da luz celestial.