LEMBRANÇAS DAS BRINCADEIRAS INFANTIS
(*) Edimar Luz
Em meu tempo de criança, múltiplas foram as brincadeiras das quais participei, nas horas vazias aqui no meu bairro e região, entre as quais podemos destacar: o jogo de bolas de gude ou fubeca, que chamávamos peteca; as pipas ou papagaios de papel; as disputas de lutas corporais; chicote queimado; triângulos; brinquedos de Natal, principalmente carrinhos; pião; jogos de bola (futebol), que era a melhor das brincadeiras; banhos no rio Guaribas; pescarias no rio e no riacho e tantas outras.
Descrevendo cada brinquedo ou brincadeira, é importante destacar que o pião é um brinquedo feito de madeira que possui a forma de pêra com uma ponta de ferro que se lança ao chão e se faz girar por meio de um cordel que se enrola nele. Haviam os chamados "serenos" e os "catataus", sendo estes últimos os de péssimas qualidades, enquanto os primeiros, de boa qualidade, eram apropriados para se colocar na mão enquanto giravam, apanhando-o no chão. À parte superior do pião, dávamos o nome de "castelo".
Na época das colheitas agrícolas, inúmeras pipas ou papagaios de papel, coloriam os ares do lugar, quando o vento, sempre a soprar, favorecia enormemente esse tipo de brincadeira infantil. As pipas eram confeccionadas com talas secas de folhas de carnaúba, com papel, linha e cola. Da sua estrutura faziam parte também os "besouros", responsáveis pelo barulho característico da pipa quando esta era empinada, e o rabo da pipa que era feito de estilhaço de tecidos. Havia, ainda, o carretel a que se enrolava o fio da linha para soltar ou empinar a pipa.
Possuíamos também, às vezes, a gaita, um brinquedo denominado também de realês ou gaita-de-boca, que é um instrumento de sopro que possui vários orifícios, e que se toca fazendo-o deslizar suavemente por entre os lábios, indo de uma extremidade a outra com tons diferentes conforme a parte da extensão do brinquedo.
Brincávamos também nas nossas várias árvores frondosas, quando ao vento embalávamos nos galhos destas árvores, como: goiabeiras, mangueiras, cajueiros, tamarineiras, umbuzeiros, trapiás, dentre outras. Em determinadas ocasiões, o vento açoitava fortemente as árvores, as quais balançavam bastante. Todas as árvores em que brincávamos eram de nossa propriedade, e ficavam de modo geral nas proximidades de nossas casas, ou nos nossos campos adjacentes.
Quando das pescarias e banhos no rio, era comum nos depararmos com algumas plantas do leito fluvial, como: marias-pretas, que, como sabemos, possui pequenos frutos negros e também é conhecida por aí como caxixu; e os canapus com seus frutos bacáceos comestíveis, que eram apreciados por todos nós, os meninos.
Brincávamos bastante também com os brinquedos, principalmente carrinhos, que ganhávamos de presente dos nossos pais nas noites de Natal, assim como também em outras ocasiões. Carrinhos diversos e bolas de futebol de plástico do tipo canarinho ou dente de leite eram para nós meninos, os principais presentes de Natal. Já as meninas, nossas irmãs e nossas primas, ganhavam de presente geralmente bonecas.
Nós, os meninos, nos divertíamos também nos parques de diversões e nos circos que chegavam à cidade. Brincávamos até mesmo, em determinadas ocasiões, com os filtros de combustíveis e pneus usados, quando estes eram retirados dos jipes do meu pai, do meu avô e meus tios, e em seguida trocados por outros novos. Há de se destacar também as brincadeiras de triângulo, jogos de castanha, caçadas de pássaros com baladeiras/estilingues, pegar pássaros, pegar preás em fojos... E outras. Todas essas lembranças trazem a infância.
(*) Edimar Luz, é escritor/cronista, memorialista, articulista, poeta, compositor, professor e sociólogo, formado em Recife – PE.
Picos-PI, novembro de 1999.