Cultura nossa de cada dia

A gente escuta uma história ou lê um bom livro e basta para penetrarmos naquele mundo descrito. Mergulharmos nos climas, nas emoções das personagens. Temos consciência de que aqueles fatos ou são ficção ou são histórias há tempos acontecidas, geralmente distantes de nosso lugar. Outras vezes não. Está se passando ou se repetindo aqui e agora, como numa transmissão ao vivo. O certo é que, em alguma medida, nós nos envolvemos e aquele universo, a partir de então, passa a fazer parte de nós tão mais intensamente quanto sejamos sensíveis ao tema por alguma identificação com algum “programa” que integre nossa personalidade.

Assim me ocorre nas histórias que vivo e suas linguagens próprias. Seus meandros que vão sendo mostrados ao passo em que penetro por entre as sutilezas dessas sociedades em particular. Entidades com força e personalidade traçadas ao longo do tempo pelas experiências e tradições que ditam os comportamentos de seus integrantes e todas as suas motivações. São culturas à parte. Com linguagens próprias como a da caserna. O ruim no meu caso é que ao invés de estudá-las, como o fazem os pesquisadores, e manter a certa distância, eu me envolvo acabando por perder o senso crítico tão necessário à informação jornalisticamente convencional.

Sinto assim com os lugares. Minha primeira reação ao conhecê-los é procurar automaticamente um semelhante no meu arquivo para torná-lo familiar. Em seguida ir descobrindo as diferenças em relação àquele que recordo conhecido, para em seguida absorver a nova informação. Assim ela entra mais fácil. Prédios, casas paisagens, ruas, pessoas, comidas, linguajares, cheiros... Depois vêm os costumes e folclores. Foi por causa deles que comecei a abordar esse assunto. Numa sociedade antiga e complexa quanto a nossa, aqui de Pernambuco, não se poderia esperar que fossem vendidos pacotes turísticos onde constassem as raízes expostas. E mesmo que se conseguisse, não haveria o tempo de “maturação” necessário para que o comprador o absorvesse em sua plenitude. Não se empacota uma cultura! Independente do desejo das autoridades do assunto quererem engordar as estatísticas das visitas ao estado. Claro que dá certa tristeza saber que não posso dividir com gente de sensibilidade altíssima as minhas emoções com o meu povo e seus costumes. Mesmo os mais simples. Historicamente pobres, esses costumes se transformaram em expressão artística e, no mínimo, se terá motivações de aprendizado de como se formou um povo para enriquecer o conhecimento. Para fazer isso de forma alegre, colorida e musical nada melhor que o carnaval.

Mas há o lado permanente de riqueza cultural. Pondo-se de lado a violência urbana, algum descaso com a conservação da arquitetura, e a pobreza contumaz, dá para se fazer o tal mergulho cultural e acrescentar milhares de cores e tons novos à retina.

Tenho uma emoção diferente para cada uma dessas belas cidades que conheço em parte. João Pessoa e sua lagoa cercada de verde de um lado e de prédios do outro, suas aconchegantes praias e deliciosos restaurantes. Maceió com seu show de avenida urbana à beira a mar, Aracajú e suas águas a separar seu centro da orla. Salvador e suas alternâncias topográficas tal como o Rio de Janeiro, minha paixão e São Paulo e seu envolvente gigantismo surreal. Do Recife/Olinda nem falo. Sinto. As demais cidades brasileiras eu não conheço “pessoalmente”, mas estão no Recanto através de seus capilares representantes versados em vida que me tocam com seus existires.

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Ao Deley e a Agda Assis (prováveis futuros visitantes de Pernambuco) e todos do Recanto que nunca vieram até aqui. – Olinda, Recife, Caruaru, Fazenda Nova, (Nova Jerusalém), Porto de Galinhas... Os esperam... Se quiserem esticar tem: Garanhuns, Triunfo, Petrolina e muito mais.