DOIS AMORES
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DOIS AMORES
(texto extraído do livro CRÔNICAS COMPROMETIDAS COM A TUA VIDA – 2ª Edição, Ed. Nacional – PA, 1990), edição realizada com o apoio cultural de George Barreto e David Fernandes Júnior – da empresa Intercontinental (instrumentos musicais).
Eu conheci Claudine no colégio público, tinha por aí meus nove anos e ela uma mais. Era a Escola “Adalberto Valle” e ficava próximo a casa de minha madrinha Natércia, no Morro da Liberdade. Nesse tempo, a gente usava calças curtas e ela saia longa e se deliciava com as cores do lápis “Fabber”.
Claudine foi, com certeza, minha primeira namorada, embora ela nunca tenha certeza disso. Cheguei a ir a sua casa, quando ela estava doente, mas só para vê-la. Tive uma sensação estranha ao entrar em seu quarto; ela só de camisola. Comigo estavam outros colegas de classe, que também nutriam o mesmo sentimento que eu por Claudine.
No princípio não dei muita atenção a ela, por causa de outras meninas que eu paquerava sem saber ao certo o que pretendia. Uma delas me chamava de lindo, essas coisas de criança, e eu acreditava. Outra chegou a dar-me um beijo – o primeiro que recebi na vida – durante a hora do recreio. Pensei que estivesse apaixonado pelas duas.
Claudine, ao contraio, era discreta. Fazia composições lindas e tinha uma letra de chamar a atenção, bem certinha, sem falhas. Era o modelo de classe e a musa dos meninos. Comecei a amá-la porque um dia, no portão da escola, consegui tocar em suas mãos finas, brancas, bem cuidadas. Senti um calor forte. Nunca mais esqueci essa sensação.
Estava apaixonado com certeza, mas ela não sabia disso. Desde aquele dia, esqueci as outras meninas e só queria ver Claudine. Fazia tudo para estar perto dela. Até de carteira eu mudei. Ela passou a ser a coisa mais importante para mim, mas nunca tive coragem de falar-lhe algo além do estritamente necessário, deveres de casa, dúvidas em matemática e coisas assim.
Durante muito tempo, formamos um par perfeito, até o dia em que Claudine mudou de Colégio, sem saber que eu a amava tanto.
Nunca mais coloquei minha mão em sua mão.
A OUTRA
Dalva era diferente, morava na Praça 14 de Janeiro e tinha 15 anos, um a menos que eu. Andava com elegância, balançando seu belo corpo e despertando suspiros aos jovens. Eu, sinceramente, não me achava merecedor dela e, de certo modo, até hoje me pergunto por que Dalva me escolheu entre tantos rapazes que estavam na festa dos seus quinze anos.
Eu tinha um misto de vergonha e orgulho de sair com ela na rua. Vergonha porque os outros rapazes a olhavam com cobiça e alguns até dirigiam-lhe gracejos. Ficava cedo de raiva ma não fazia nada porque nunca fui de briga e era muito franzino. Dalva foi, com certeza, a garota mais importante. Tinha raiva do meu cabelo longo e não gostava de minha barba em seu início, que a ambos chamava de tétrica. Talvez por isso nunca a tirei, até hoje. Meu namoro com Dalva foi bonito.
Estava animado, apesar de tudo. Com pouco dinheiro, sem carro, fazia de tudo para me apresentar bem e o esforço era recompensado. Apanhar Dalva no colégio era o que eu mais gostava de fazer e ficava furioso quando isso não era possível.
Só sei que, como cheguei me fui. Um ano depois, no dia do seu aniversário, cheguei todo animado. Ela estava dançando com outro um rapaz e, ao ver-me, foi logo ao portão:
- Eu queria te apresentar meu novo namorado. O nome dele é...
Entalei, fiquei mudo e senti que alguma coisa estava para acontecer. Voltei, fiquei na parada do ônibus e, enquanto o esperava, lágrimas desciam. Ah, Dalva, porque você foi fazer uma coisa dessas comigo e me desprover do tato de seus cabelos loiros, de sua boca sensual e de sua pele branca como a lua?