O dia em que a luz acabou
Era ainda início da tarde quando cheguei em casa, na intenção de desfrutar do resguardo doméstico para concluir uma tarefa profissional cujo prazo me espreitava ameaçador no dia seguinte.
Iniciei o velho ritual, como de hábito. Liguei o computador, pus uma música para tocar, espalhei papéis e anotações à minha frente e... E, nada! De repente, acabou a luz!
Estranha essa expressão que a gente usa quando há interrupção no fornecimento de energia elétrica. Porém, nessas oportunidades, o apagar das luzes acaba sendo o sinal mais evidente e parece lógico que uma coisa e outra sejam tidas como a mesma coisa.
O dia estava ensolarado e, certamente, não foi por falta de claridade que não pude levar adiante meu intento. Todavia, sem nada para tocar a música e, principalmente, sem computador o ritual da labuta não poderia ser cumprido. Ademais, a bateria do notebook estava irresponsavelmente com sua carga muito baixa.
Daí, dei-me conta de como somos dependentes da tecnologia. Não era possível trabalhar e, também, não havia as opções corriqueiras de lazer, no caso, a tevê e a internet. Acuado pelo tédio que se apoderava do ambiente, fiz algo que há muito não ousava fazer: saquei um livro qualquer da estante.
Ocorre que o “livro qualquer” que surgiu daquela seleção aleatória, foi o pequeno volume que, anos atrás, fiz publicar com meus poemas. Como toda releitura, certamente não iria haver nenhuma evolução no texto já conhecido, mas haveria de se perceber a evolução do leitor.
Fui tomado por um misto de arrependimento e vergonha. Muito certamente – então eu pude perceber com clareza – aqueles textos foram compilados e publicados para satisfazer minha vaidade, porque de qualidade literária pouco ou nada havia que justificasse tal desatino.
Aliás, muito tempo também já fazia que eu não me lançava a costurar versos e empilhar estrofes. Fiquei a me perguntar onde, afinal, eu esquecera o pretenso poeta que um dia houve em mim.
Em algum momento que não consigo definir, fui deixando de ver a vida com aquele colorido e de sentir pessoas e coisas como elementos pitorescos que merecessem o registro de minhas impressões. A vida, as pessoas e as coisas continuaram, como sempre, sendo uma fonte inesgotável de assuntos “poetáveis”. Portanto, claro que foi minha sensibilidade que ficou arredia. Por alguma razão inexplicável, as experiências ficaram esquecidas e as esperanças estacionaram obsoletas.
Àquela altura, os aparelhos elétricos e eletrônicos continuavam sem dar nenhuma pista de que fossem voltar a funcionar. Retomar a leitura do “livro qualquer” tendia a me causar uma certa depressão. Pensei em procurar algo mais recompensador na estante, mas, num rompante, tomei a caneta à mão, postei-me diante do maço de folhas em branco e desafiei-me a reagir.
A luz, então, voltou!!!
Era ainda início da tarde quando cheguei em casa, na intenção de desfrutar do resguardo doméstico para concluir uma tarefa profissional cujo prazo me espreitava ameaçador no dia seguinte.
Iniciei o velho ritual, como de hábito. Liguei o computador, pus uma música para tocar, espalhei papéis e anotações à minha frente e... E, nada! De repente, acabou a luz!
Estranha essa expressão que a gente usa quando há interrupção no fornecimento de energia elétrica. Porém, nessas oportunidades, o apagar das luzes acaba sendo o sinal mais evidente e parece lógico que uma coisa e outra sejam tidas como a mesma coisa.
O dia estava ensolarado e, certamente, não foi por falta de claridade que não pude levar adiante meu intento. Todavia, sem nada para tocar a música e, principalmente, sem computador o ritual da labuta não poderia ser cumprido. Ademais, a bateria do notebook estava irresponsavelmente com sua carga muito baixa.
Daí, dei-me conta de como somos dependentes da tecnologia. Não era possível trabalhar e, também, não havia as opções corriqueiras de lazer, no caso, a tevê e a internet. Acuado pelo tédio que se apoderava do ambiente, fiz algo que há muito não ousava fazer: saquei um livro qualquer da estante.
Ocorre que o “livro qualquer” que surgiu daquela seleção aleatória, foi o pequeno volume que, anos atrás, fiz publicar com meus poemas. Como toda releitura, certamente não iria haver nenhuma evolução no texto já conhecido, mas haveria de se perceber a evolução do leitor.
Fui tomado por um misto de arrependimento e vergonha. Muito certamente – então eu pude perceber com clareza – aqueles textos foram compilados e publicados para satisfazer minha vaidade, porque de qualidade literária pouco ou nada havia que justificasse tal desatino.
Aliás, muito tempo também já fazia que eu não me lançava a costurar versos e empilhar estrofes. Fiquei a me perguntar onde, afinal, eu esquecera o pretenso poeta que um dia houve em mim.
Em algum momento que não consigo definir, fui deixando de ver a vida com aquele colorido e de sentir pessoas e coisas como elementos pitorescos que merecessem o registro de minhas impressões. A vida, as pessoas e as coisas continuaram, como sempre, sendo uma fonte inesgotável de assuntos “poetáveis”. Portanto, claro que foi minha sensibilidade que ficou arredia. Por alguma razão inexplicável, as experiências ficaram esquecidas e as esperanças estacionaram obsoletas.
Àquela altura, os aparelhos elétricos e eletrônicos continuavam sem dar nenhuma pista de que fossem voltar a funcionar. Retomar a leitura do “livro qualquer” tendia a me causar uma certa depressão. Pensei em procurar algo mais recompensador na estante, mas, num rompante, tomei a caneta à mão, postei-me diante do maço de folhas em branco e desafiei-me a reagir.
A luz, então, voltou!!!