O SONHO E O FEIJÃO

Creio que todos nós temos sonhos e que são eles que nos movem, que nos fazem envidar esforços para conquistá-los. Eu, por exemplo, aspiro a dar uma volta ao mundo. Naturalmente, não quero fazer isso oscilando o meu polegar acima do ombro direito, como eu fazia quando tomava carona para estudar em Colatina. Afinal, nessa idade, embora eu não seja rica, aprendi que o dinheiro pode me dar o conforto, que eu mereço, já que “Trabalhar” sempre foi o meu primeiro nome. Então, de bom grado, prefiro as primeiras classes de navios ou de aviões, as suítes presidenciais e as mordomias de tudo isso decorrentes.

Estou envelhecendo e esse sonho está cada vez mais distante, já que eu não nasci nem rica e nem bonita a ponto de fazer algum “partidão” querer a minha mão em casamento. Para piorar, escolhi me formar em algo considerado pouco nobre e desnecessário pela maioria da população: Letras. A causa me parece estar ligada a um equívoco originado pela velha lei da oferta e da procura: quando há muito o preço cai. Como a maioria das pessoas, “inocentemente” acredita que sabe ler e escrever, não há porque remunerar bem os profissionais que ensinam isso.

Diante dos meus sonhos e da minha impossibilidade de realizá-los, eu poderia escolher ser desonesta, mentir e enganar, como tantas pessoas indecentes e paparicadas pela sociedade o fazem. Mas como eu me recuso a tapar as narinas para suportar hipocrisias, escolhi plantar, regar e cuidar do meu “feijão” todos os dias. Tudo isso me fez aprender que querer não é poder, que a realização de sonhos é dependente de uma série de pré-requisitos.

Em nome de um sonho e com a aquiescência de 37.360 eleitores, desde janeiro, Linhares tem um novo gestor a quem eu, sinceramente, desejo boa sorte, embora a escolha de alguns de seus auxiliares revele as alianças de bastidores, que os tolos (como eu) não souberam ou não pressentiram, e os sabidos fingem não ver. Talvez o mundo político seja mesmo assim, mas ele não precisaria de ser, se todos os que o habitam fossem guiados pela ética e pela decência.

Reconheço que o tempo seja curto para vermos cumpridas as promessas de campanha, mas percebo que, no afã de dar respostas à sociedade, há ideias conceitualmente equivocadas e sustentadas por cabeças “ilustres”. Entendo que diante de uma doença, seja importante fazer o acertado diagnóstico para que se faça a prescrição e a utilização da medicação correta. Em outras palavras, não dá para se cortar o pé de quem tem dor de ouvido.

Não vendo bebida alcoólica, não sou alcoólatra e não tenho miséria para receber em minha casa os amigos, quando desejamos comer e beber, socialmente; portanto, pouco me importa se os bares têm de fechar à meia noite. O que me intrigam são duas coisas: o decreto rememorar o gostinho antigo da Ditadura, e a inocente dedução de que o capeta só cause desgraças nas primeiras cinco horas da madrugada.

Contudo, espero que o mesmo ímpeto, o mesmo apoio e medidas similares, ataquem o “tumor” onde ele está: nos traficantes, nas bocas de fumo e nos usuários que, com seus vícios, sustentam esse negócio, tornando-se corresponsáveis pela violência. Se isso é da competência do executivo municipal eu não sei, mas sei que é um “feijão”, é o pesadelo que vem embutido no sonho da gestão, que precisa de coragem sim, mas também de perceber onde está o alvo certo.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 16/05/2013
Reeditado em 19/05/2013
Código do texto: T4294093
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