Matar a fome
          comendo insetos



        Combater a fome comendo insetos. A sugestão é da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
        Os insetos, segundo a FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nation - , "são uma fonte de proteínas importante e têm um potencial inexplorado não só como alimento mas também como ração para o gado".
      No seu comunicado, o respeitado Órgão da ONU diz mais que "2 bilhões de pessoas em culturas tradicionais já consomem mais de 1.900 espécie de insetos."
      Entre os insetos, de alto valor nutritivo, relacionados pela FAO estão os besouros, as lagartas, as abelhas, as vespas, as formigas e os gafanhotos.
          Os gafanhotos, por exemplo, diz a FAO, "têm mais conteúdo em ferro que a carne bovina." Incrível!
        Observa-se que, no cardápio da FAO, ficaram de fora as baratas, para gaudio das mulheres que, geralmente, as odeiam.
         Sobre as baratas, andei falando alguma coisa, em páginas passadas. Resumi, numa pequenina crônica, o que sobre elas escrevera Luís da Câmara Cascudo, in Coisas que o povo diz.
          Sob o título A lição da barata, Cascudo conta que um homem "começou a sofrer das urinas e não podia verter água." Os médicos o desenganaram.
          Desesperado, o cidadão procurou "uma velha que ensinava remédios antigos, meizinhas do povo."
   A velha mandou que o homem lhe trouxesse uma barata das grandes, ainda viva.
          Às escondidas, a anciã torrou a barata, que virou pó. Com o pó ela fez um chá, adoçou, e deu ao doente para beber. Resultado: o cidadão ficou curado. Dias depois procurou a velha para agradecer, e só, então, soube que havia bebido um chá de barata. 
          É, apenas, uma das muitas estorinhas contadas pelo festejado folclorista potigua, nesse seu livro, muito interessante, por sinal.
          Vale advertir que, sem a indispensável aprovação da Medicina, não devem as pessoas que sofrem "das urinas" recorrer ao "chá" da barata, certos de que serão curados ao ingerirem esta estranha meizinha.
           A barata, portanto, pelo menos por enquanto, não está incluída no menu da FAO. Um dia, quem sabe, ela passa também a ser útil à Humanidade, alimentando-a sem restrições. Serão, então, amadas por aquelas (e aqueles) que hoje as repelem, usando para tanto o insuportável Detefom.
          Apesar do destaque que a mídia deu ao relatório da FAO defendendo "o consumo de insetos no combate à fome", essa de se alimentar de gafanhotos, não é coisa nova.
        Segundo os Evangelistas sinóticos, João Batista, o Precursor, sobrevivia no deserto comendo esses polífagos.
         Está no Evangelho de Marcos, o mais antigo dos quatro: "João vestia-se de pêlo de camelo, com um sinto de couro à volta dos rins; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre." O mesmo disse Mateus e Lucas.
          Embora os admire pelo seu engraçado porte físico - acho-os uma gracinha! - dos gafanhotos não guardo boa lembrança. Eu menino, assisti mais de uma dezena deles destruir, em poucas horas, o pequeno roçado de milho do meu pai, deixando-me sem a canjica do são-joão.
          Eles chegam onde não são chamados; e de surpresa.
          Acreditem: até ao show do Paul Mc Cartney eles compareceram! Estou lendo aqui, que durante a apresentação do belo cantor inglês em Goiânia, de repente gafanhotos irreverentes, atrevidos, pousaram sobre seu encantador piano, sem pedir licença.
        Cartney, esbanjando simpatia, teria elogiado os gafanhotos que, surpreendentemente, fizeram parte do seu show.
          Agora, assuntem só: o meu medo é que as autoridades brasileiras, aproveitando a dica, passem a socorrer os nordestinos - que neste instante atravessam impiedosa seca -, enviando-lhes, para lhes matar a fome, abelhas, vespas, formigas, grilos e gafanhotos.
   Comer insetos, garante a FAO, é uma boa, dirão elas e seus porta-vozes. E bem mais barato, digo eu. 
   Oficializado este cardápio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, sobrará, pois, com a ajuda dos insetos, mais grana para custear as fan-farras palacianas: aqui e no exterior.
   
   

     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 16/05/2013
Reeditado em 28/10/2020
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