O apito quebrado

Eu e meus dois irmãos fomos levados para Governador Valadares, casa nossa avó materna. Minha irmã fora levada para a casa de outros parentes, enquanto minha mãe tentava vender nossa casa em Aimorés e comprar outra Valadares.

Meu pai, o Cabo Milton, havia morrido em luta com pistoleiros da região, há poucos meses. Era preciso começar de novo, e desta vez, sem a ajuda do pai.

Eu tinha quatro anos, o mais, novo um ano e o mais velhos dos homens, cinco. Nosso tio, em cuja casa estávamos, tinha seis anos.

Nossa avó, procurando nos agradar e consolar, foi à venda onde comprou-nos pirulitos que apitavam. Foi uma grande alegria para a meninada que fez a maior festa. Menos eu. Meu pirulito não apitava. Ao ver a alegria dos outros meninos e a minha frustração, fui acometido por um sentimento de revolta tão grande que não me contive. Revoltado, peguei meu pirulito, arremessei-o para bem longe no meio do mato e fui chorar atrás da porta do quarto. Os outros meninos logo souberam do feito e foram contar à nossa avó o que havia acontecido e qual fora o meu procedimento. Eu nem imagino, como uma criança tão nova poderia Ter em seu coração uma revolta tão grande por algo tão fútil. Minha avó chamou-me:

__ Naassom, onde você está?

Continuei calado atrás da porta, revoltado e cheio de razão.

__ Está atrás da porta do quarto, vó! Gritaram os meninos em coro. Minha avó foi onde eu estava e disse-me:

__ Por que você fez isso, seu mal agradecido, era só Ter falado comigo que eu daria outro a você!

Eu era apenas um menino, e vi como minha avó tinha uma solução tão simples para o meu problema, que parecia ser tão grande. Certamente me lembraria desse episódio por todos os meus dias.

Hoje sou um homem de quase quarenta anos, mas muitas vezes vejo em mim aquele mesmo Naassom pirracento, que diante dos problemas, das incompreensões da vida, quer jogar tudo fora. Nessas horas lembro-me de minha avó, que tinha uma solução tão simples para um problema tão grande.

Aquele Naassom não era apenas o Naassom, na verdade, aquele menino encarnava em si toda a humanidade ingrata e mau agradecida que diante das oposições na vida e das coisas que não funcionam quer jogar tudo fora, quer abandonar os projetos, quer Ter o direito de ficar revoltado e ir chorar atrás da porta.

Penso nos grandes problemas que a humanidade vive: problemas pessoais, conjugais, emocionais, espirituais e financeiros. São grandes problemas, cuja solução Deus tem em suas mãos. Hoje Deus nos fala como minha avó falou-me:

¬¬___ Por que você não falou comigo?

A humanidade tem grande facilidade para revoltar-se, para jogar tudo prá cima, para reclamar e chorar atrás da porta. Fale com Deus, Ele tem a solução. O que é impossível para o homem é possível para Deus. Comece outra vez, comece do jeito certo, com Deus ao seu lado.

Naassom
Enviado por Naassom em 15/05/2013
Código do texto: T4292609
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