O AMOR NUNCA FOI SÃO

Lá pelas tantas veio a pergunta: “Mas se eu sou tudo isso, por que você está comigo?” Estou contigo por “tudo isso”. Por todas essas coisas sobre as quais eu reclamo: suas manias irritantes, que, por decência, prefiro não comentar.

Estou contigo porque te amo. Amo de um jeito meio louco, briguento, “reclamão”. Amo porque as suas insanidades reforçam as minhas e, assim, aos tropeços, a gente se entende. Quando um de nós está emburrado, o outro sempre sossega. E é por essa regra implícita, que nunca precisou ser discutida, que te amo.

Amo porque nos momentos em que eu precisava de uma palavra amiga e um afago, você me “esculhambou” e me trouxe de volta à realidade, não permitindo que eu interpretasse o papel que mais detesto: o de vítima.

Amo quando você vira para mim com seu jeito “gentil” e me alerta: “Vai dar merda...” E eu te olho com raiva, mas acabo morrendo de rir. Claro que depois sempre jogo na sua cara o tamanho da sua insensibilidade e você, ternamente, repete: “Amor, mas vai dar merda..." E cai na gargalhada. E eu, nocauteada, porque sei que você está coberto de razão, seguro o riso para manter a pose.

Amo porque confio em você. Admiro a sua completa falta de bom senso para lidar com os seus problemas e o seu excesso de razão e sapiência para resolver os meus. Amo porque você é generoso, embora ingênuo em sua esperteza.

Amo seus acessos de raiva, porque tenho a oportunidade de praticar minha tolerância e me tornar uma pessoa melhor, mais compreensiva. Mas também amo porque você tem a capacidade de pedir desculpas e reconhecer seus erros – virtudes dos nobres de caráter.

Amo porque com você posso ser eu mesma. Sem meias palavras, sem poses, sem preconceitos. Amo porque você atura minhas frescuras, elogia a minha comida, fala de mim com orgulho para os seus amigos e sempre “aumenta” um pouquinho as minhas qualidades.

Amo porque graças a você eu segui em frente, aos trancos e barrancos, mas segui. Amo porque você trouxe movimento para a minha vida e me ensinou o valor da retidão de postura.

Eu te amo, porque te amo. Pela sua incrível capacidade de adaptação. Por ser você. E, principalmente, porque você me ama. E, se um dia acabar, saberemos que fomos, ambos, muito amados!