O dia em que fui eu mesma para quem quisesse ver
A tarde estava indo embora enquanto eu passeava pelo centro da cidade, comprando coisas, vendo pessoas, usando produtos das lojas e sorrindo mais e mais a cada nova idiotice que cometia. As pessoas estranhas olhavam e seguravam sorrisos, eu estava loucamente maquiada como um travesti. Mas estava com a camiseta do meu melhor amigo e minha calça preferida. Com minha amiga preferida. Eu estava bem. Estava tudo bem, por quê não haveria de estar?
Anoiteceu e fui à biblioteca, me isolei em um canto qualquer porque precisava escrever um pouco. E escrever é o vício que mais me maltrata.
Não sou boa nisso, em segurar emoções e exprimí-las perfeitamente no papel, acabo por exprimir as emoções na face mesmo e para o papel quase nada sobra.
Foi o que aconteceu, não estava aguentando, já não estava bem, a felicidade me fez definhar pela noite. lembrei de todos os motivos que me levaram a estar ali sozinha, rabisquei algumas coisas, liguei para uma outra amiga, chorei na biblioteca pública mas ninguém reparou. Me recuperei. Peguei o ônibus, segurei o choro nele também e mais uma vez ninguém reparou. Decidi descer na casa da minha mãe, ela me entenderia.
Ela não estava em casa. Liguei, chegaria logo, tudo bem esperar na porta.
Então chorei mais uma vez, na porta da rua. Na calçada. No chão. Enfim uma moradora abriu a porta de fora. Entrei. Chorei nas escadas. Chorei na porta. Chorei quando minha mãe finalmente chegou. Chorei na rede e depois chorei mais um pouco na cama. Chorei vendo meu celular lotado de mensagens a serem respondidas. Chorei me perguntando se alguma daquelas pessoas se importaria em saber o que eu estava passando e chorei concluíndo que não. Chorei até meus ouvidos estourarem. Chorei até dormir.
E agora todos aqueles da biblioteca, todos do ônibus e todos da rua sabem que eu não sou tão feliz assim. Ou sou? Não importa.
Mostrei ao mundo inteiro que estava só. E as pessoas continuaram a seguir suas vidas.