A Indecisa de São José dos Pinhais 2
Ela estava se arrumando para sair, iria visitar seus parentes que há muito não via, apesar de morar próximos. Estava ansiosa, o almoço fora marcado com dias de antecedência.
A saudade, principalmente dos sobrinhos, eram enorme. Sentia falta daquela algazarra de quando morava com sua mãe e eles não deixavam-a em paz. Eram seis quando ela morava lá, agora já estão em oito, e a tendência é só aumentar. Depois de casada vivia somente com o marido, não tinha filhos, não tinha certeza se era o momento certo, na verdade era muito nova ainda e queria aproveitar a vida.
Na vida com o marido, um cara pacato, quieto, metódico e "tudo certinho", era advogado e sempre tinha argumentos que a irritavam, levavam uma vida sossegada, sem muito agito. Quando resolveu casar era exatamente o que procurava, um pouco de paz e tranquilidade. Ela era a filha caçula. A mais independente. A sogra de uma de suas irmãs achava-a "metidinha".
Sentia saudade daquelas conversas com suas irmãs, e também daquelas discussões que as vezes as deixavam-as sem se falar por um bom tempo. Brigas a toa ou não, não importava. Ela sente saudades, não admite perante o marido, mas precisa de uma discussãozinha de vez em quando.
Andava irritada ultimamente, sentia falta de conversar com sua mãe. Descontava no marido algumas vezes, mas que para ela não tinha graça, pois ele não reagia como esperava.
Depois do banho tomado, ele já estava pronto havia quase meia hora, sentado no sofá na frente da televisão, enquanto esperava-a arrumar o cabelo. Ela perguntou:
- qual você prefere? cabelo solto ou um coque? E demonstrou como ficaria os dois.
Ele responde economizando as palavras, como de costume:
- cabelo solto!
Ela continuou:
- mas se eu fizer um coque assim, vai ficar bom?
- sim! respondeu ele.
- e seu eu fizer um rabo de cavalo?
- também fica bom!
- e seu eu fizer assim, fica bom? E fez uma franjinha, ele odiava este tipo de franjinha que estava em alta naquela estação.
- não! prefiro o cabelo solto! Respondeu seco.
- mas o rabo de cavalo não tá bom?
- fica bom, mas eu prefiro o cabelo solto!
- mas assim com o coque, você falou que fica bom?
- ficou bom também, mas eu prefiro o cabelo solto!
- tá... vou de cabelo solto! E saiu, voltou para terminar o penteado na frente do espelho.
Voltou com o cabelo com um coque.
Ele falou: - porque pergunta minha opinião, se depois faz diferente?
- acho que assim ficou melhor! respondeu ela.
Ele se resignou e resmungou:
- tá pronta? vamo chegar atrasados!
- não tá vendo que não, agora vou me vestir!. E não fique me apressando não! falou ela exaltada.
Lá foi ela se vestir. Mas um bom tempo, até que chamou ele para ver as opções. Lá foi ele para a tortura de provação de roupas. Devia ter umas cinco blusinhas, 3 calças e alguns vestidos. Primeiro foram as blusinhas com as calças, fez todas as combinações possíveis. Ele sugeriu uma blusa estampada com flores miudinhas e uma calça jeans básica.
- mas e se for esta blusinha azul com esta calça jeans?
- ficou bom, mas eu prefiro a minha primeira opção!
- e este vestido vermelho?
- eu prefiro a blusa florida e calça jeans, mas se for de vestido eu prefiro o azul!
- mas porque você quer que eu vá de calça?
- você perguntou minha opinião e eu disse ué!. Eu prefiro de calça e blusa florida, porque você vai ficar correndo com as crianças, e neste caso é melhor ir com este tipo de roupa!
- mas, e se eu quiser de vestido?
- ué, se você quiser ir de vestido você vai, eu só to dando minha opinião!
- ui! você me irrita, deixa... deixa, que eu me viro sozinha, você não sabe me ajudar!
Uns minutos depois sai ela de calça jeans, e blusa azul. E perguntou qual calçado:
- tênis branco ou a sapatinha preta?
Ele ficou pensando que ela fazia isto só para irritá-lo. Foi de tênis branco, única coisa que concordou com ele até o momento.
- e agora tá bom assim? disse ela.
- não foi minha sugestão, mas tá "boa" assim!. Disse ele. E falou: - vamo?
- já falei que não me apresse, não gosto que as pessoas fiquem me apressando. Vou fazer a maquiagem!
Foram-se mais alguns minutos. Ele quase dormindo no sofá, quando ela apareceu e disse:
- vamos? ficou bom?
- sim, ficou bom!
- uiiii! que tipo de você nem para fazer um elogio!!! comentou.
Ele já estava entrando no carro, quando ela lembrou:
- deixa eu pegar minha bolsa! você acha que combina a bordô pequena, ou a ocre grande?
- pega qualquer uma, a bolsa vai ficar no carro mesmo!!
- você é insensível mesmo! Falou e foi buscar a bolsa, trouxe uma bolsa preta, com um gatinho na fivela!!!