Tem Alguma Coisa

Fui investigar o fundo da alma. Nada descobri além de calma. O que já foi alguma coisa. Um processo introspectivo indutor da desaceleração do movimento mental. Meditar é não pensar, diria o avatar. Diriam os indus. A aproximação do equilíbrio. Só que a desaceleração absurdamente total desse movimento poderia levar à paralisia mental. O equilíbrio demais levando ao desequilíbrio.

Que não teria significado para nós, cultuadores da ordenação da mente. Mas que terá obviamente o seu significado específico. Numa prova contundente de que a mente mente. Nome mais do que apropriado para ela, dentre todos os nomes que inventamos para tudo.

Naquela estação em que procuramos deter o pensamento, ou a movimentação mental, podemos desconfiar que a alma é amorfa. Enquanto o corpo for presente. Terá um conteúdo etéreo, mas somente quando o corpo não mais existir. Identificaríamos a alma como a continuação da vida. A matéria vai embora, o espírito não. Essa a diferença da alma para a mente. A mente vai embora com o corpo. O que implicaria em dizer que a alma não pensa. Porque não continua com a mente. E se não pensa, não mente. Também não fala, não diz o que quer. Será um conteúdo sem vida? Amorfo já é.

Se nos lembrarmos da expressão “almas penadas”, veremos que faz algum sentido. Almas que transitam por aí sem qualquer definição de paradeiro, sem destino, “easy riders”.

Não será o caso de acharmos que a calma gera, na verdade, uma convulsão? A mente se inquieta em definir a alma e também ao perceber que só existe porque o corpo permite. Então, vim me acalmar e acabei me inquietando.

Talvez seja por isso que há os que não acreditam na alma. E nem no espírito. Mas como explicar a existência de espíritos mais ousados e outros não tão destemidos? De poetas, de pintores, escultores e pessoas que não são nada disso? Mas que têm outros tipos de disposição? E acabam sendo iguaiszinhas às primeiras, sob o ponto de vista da matéria?

Percebo que já me acalmo de novo. Não pelo que faço ou não faço, mas pela identificação de um caminho. Então a alma faz sentido. Ou o espírito. E o fato de ela não pensar, não falar ou não dizer o que quer – nada a ver. Ela pode ser um retrato da gente que paira onipresente em qualquer canto da vida. Ainda que não percebida.

Sim, porque por mais treinamento, adestramento ou exercitação a que pudermos submeter alguém, nunca ninguém vai pintar a Mona Lisa como Leonardo Da Vinci ou fazer um “Carinhoso” como Pexinguinha. Costumamos dizer que nada é impossível. Mas coisas desse tipo são.

Depois que o corpo foi embora, ninguém vai mais reproduzir com fidedignidade o que aquele corpo produziu. Algo intrínseca e automaticamente patenteado. O que só foi possível enquanto ele teve vida. Outros corpos virão. E produzirão coisas diferentes, porém nunca iguais.

Existirão, portanto, uma infinidade de espíritos por aí dissipados no ar. Almas penadas. Corpos apenados. Culpados pelo que tenham produzido. Enquanto puderam ser animados (anima) ou ter animação.

Mas não podemos deixar o trem parar. Ou melhor, ele deve parar apenas para que o passageiro salte. Depois deve prosseguir com a viagem.

Marina Di Camerota, Itália, 15/05/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 15/05/2013
Reeditado em 16/05/2013
Código do texto: T4291324
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