O SILÊNCIO DOS INOCENTES

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

Jorge Linhaça

Tive um grande professor, nas aulas do Instituto que sempre encerrava suas explanações perguntando: Certo? Doutores no assunto? Perguntas?

Ao ver o silêncio generalizado, típico das salas de aula quando o professor é bom, completava com:

Ou vocês entenderam tudo... Ou não compreenderam nada.

Era uma maneira de fazer com que nos colocássemos em relação ao que aprendêramos.

As aulas de Valter Guedes de Queiróz eram recheadas de experiências pessoais, de exemplos, de aplicações das escrituras, de modo algum se resumiam à leitura de algumas frases de um manual e perguntas superficiais. Impossível sair dali da mesma maneira como entramos. Assim como minha vida, ele tocou a vida de muitas outras pessoas.

Quando fui chamado a ensinar em várias organizações, procurei levar comigo aquele exemplo de uma aula realmente edificante, capaz de remover as barreiras da mesmice angustiante que encontramos em muitas salas de aula.

A julgar pelo que vejo e tomo conhecimento sobre meus ex-alunos, não devo ter sido um professor tão ruim, já que muitos deslancharam como líderes capazes de fazer a diferença na vida das pessoas.

Não existe nada mais inquietante para um professor do que o silêncio fúnebre e improdutivo numa sala de aula. Nem mesmo a inquietação dos jovens.

Ao nos reunirmos em uma sala de aula para conhecermos melhor determinado assunto (principalmente quando tratar-se de religião), precisamos entender que perguntas e observações fazem parte do aprendizado pois o professor está ali para aprender conosco tanto quanto nós para aprender com ele. É essa troca de experiências e visões que permite que sejamos edificados, que as visões fragmentadas ou superficiais possam ser completadas ou aprofundadas.

Ao longo dos anos tenho visto diversos tipos de professores, com diversos graus de conhecimento sobre o que vão compartilhar. Professores que acham que sabem tudo e professores que acham que não sabem nada, o que é uma pena.

Os que creem saber tudo acabam metendo os pés pelas mãos e usando exemplos, no mínimo inadequados, capazes de nos induzir ao erro por conta de uma imagem mal escolhida. Quando os alunos nada questionam sobre a imagem fixa-se uma ideia errônea sobre aquele princípio.

Me permitam lhes citar um exemplo:

Certo professor, buscando explicar as consequências dos pecados e transgressões, decidiu que seria uma boa imagem mental um vaso de cristal quebrando-se, que mesmo depois de consertado jamais voltaria a ter a mesma beleza e pureza anterior.

Num primeiro momento a imagem pode parecer bastante plausível, no entanto, olhando mais de perto, percebemos que é bastante inadequada e carrega em si uma negação a uma doutrina básica do cristianismo. Se não, vejamos:

Cristo ao orar no jardim do Getsêmani, tomou sobre ele todos os nossos pecados e expiou por eles de modo que, através do o arrependimento, cada um de nós pode branquear suas vestes no sangue do Cordeiro de Deus. Assim sendo, dizer que, como vasos, ao quebrarmo-nos ou trincarmo-nos perdemos o privilégio de nos purificarmos novamente, é como negar o poder da expiação de Cristo.

Na aula em questão, felizmente uma irmã teve a coragem de contestar a imagem escolhida e colocar as coisas na devida perspectiva. Só então outras pessoas se manifestaram. Não fosse essa colocação da irmã e muitos sairiam dali realmente acreditando que estavam condenados a jamais poder voltar à presença de Deus, senão para serem julgados e lançados fora.

Não se pode afirmar que houve má-fé do professor e que ele quisesse realmente prejudicar a autoestima dos alunos, no entanto o exemplo serve para demonstrar quanto é perigosa uma má escolha de exemplos ou imagens mentais. Pior é quando algumas dessas imagens se acomodam na mente de algumas pessoas e elas passam a agir como “separadores oficiais do rebanho” dizendo às pessoas que não fiquem muito perto de fulano porque ele cometeu algum deslize, ou de sicrana porque ela não faz determinada coisa.

Não seria exagero argumentar que: Ao longo de nossa vida encontraremos muitos acusadores, no entanto sempre teremos a certeza de que, ao fim do processo, quando formos julgados em última instância, poderemos contar com o maior de todos os advogados, o Senhor Jesus Cristo.

Isso, é claro, não significa que devemos entender que podemos ser displicentes a ponto de crer que podemos sair errando a torto e a direito sem sofremos as consequências. Como citei acima, precisamos muitas vezes passar pela fornalha do arrependimento para que purificados de nossos equívocos e transgressões. No entanto, após pagarmos o preço requerido de nós (e não se trata de dinheiro viu!) seremos restaurados à plenitude do mais puro cristal.

Enfim, em suas aulas, caso alguma dúvida ocorra em sua mente, questione o professor, não com aquele espírito de apenas tumultuar a aula, mas com a finalidade de esclarecer o que está sendo ensinado, assim todos se edificarão e sairão dali com a compreensão mais clara do princípio ensinado.

Afinal é requerido de nós que aprendamos o que é correto e o silêncio fúnebre não nos edifica em nada quando nossas mentes jazem cheias de dúvidas.

O debate honesto e desarmado é sempre mais produtivo do que a passividade indolente.

Salvador, 13 de maio de 2013.