DONA MILOTA BENZEDEIRA

As benzedeiras fazem parte da nossa cultura popular. São velhas senhoras, generosas, dotadas de muita fé, as quais curam pequenos males das pessoas que as procuram com suas rezas, seus chás e água benta, tratando dores do corpo (cabeça, joelho, peito, etc), espinhela caída, quebranto, picadas de inseto e outros que tais. Atendem a todos com simplicidade, não cobram nada (“Deus nunca cobrou pra fazer o bem” – disse uma delas) e aprenderam o ofício com seus avós. O tempo passa e elas persistem, mormente no interiorzão do nosso país.

Lembro-me que, quando garoto traquinas, éramos vizinhos da Dona Milota, benzedeira famosa no bairro da Renascença, Belô/MG. Era mãe do Lico e do Zé Gaia, os dois jogadores de futebol do velho “Esporte Clube Renascença” e irmãos da Leonor. O Gaia se projetou como zagueiro e fez nome num timaço do América Mineiro nos anos 50, chegando à seleção mineira.

Lá em casa, numerosa prole (éramos 10 irmãos), minha mãe, volta e meia, enfrentava problemas com algum dos pirralhos, como machucados nas “peladas” disputadas no campo de terra, picadas de bicho do mato, dores de cabeça, dores de barriga e outros incômodos. Quando a gente reclamava, ela dizia:-

“- Vai lá na Dona Milota e pede pra ela benzer!...”

Uma vez arranjei uma dor de cabeça horrível, assim sem mais nem menos. Devia ter uns 9 anos. Não podia nem com a claridade do sol, parecia que meu coco iria estourar. Corri pra Dona Milota, duas casas abaixo da nossa, chorando de dor. Ela me acudiu prontamente, levou-me pro fundo do seu imenso quintal, sentei-me num tosco banco de madeira sob frondosa mangueira, ela veio com uns ramos molhados, circundou-me aspergindo gotas d’água na cabeça, balbuciou sua reza de maneira ininteligível e em poucos minutos a dor sumiu como se por milagre! ...

De outra feita machuquei o joelho direito numa “pelada”, o danado inchou, ficou bem dolorido e não pensei duas vezes:- corri pra casa da Dona Milota. Ela veio mansamente, com aquele seu andar arrastado, estendi a perna e ela, rezando em voz baixa, passava uma bola de barbante por cima do meu joelho enquanto enfiava uma agulha grande nessa bola, “costurando” qualquer coisa rompida internamente. A seguir, fez breve massagem com bastante arnica líquida e me mandou pra casa descansar. Só sei dizer que no dia seguinte eu já estava bom que nem um cabrito.

Dedico, pois, esta crônica à essas velhas, sábias e bondosas macróbias, benzedeiras de fé e de ofício, até hoje existentes por todo o nosso grande país. Que Deus as abençoe e ilumine, outorgando-lhes sempre o poder milagroso para as suas curas. Amém! ...

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B.Hte., 14/05/13

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 14/05/2013
Reeditado em 14/05/2013
Código do texto: T4290119
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