Quem somos nós?
O saber sobre nós mesmo rege a intenção e a necessidade de construir conhecimento sobre o eu e o outro – a alteridade do ser, do indivíduo. Há interesse pelo saber e pela sua busca, pela procura da personalidade própria. É a valorização do homem como ser próprio, como matéria e sensível/sensibilidade, assim como fala o conceito do universal de Aristóteles: não tem nada a ver com as características de cada um, mas com várias realidades, várias imagens. Ou seja, tudo aquilo que a coisa é não se pode definir como ela é, entretanto, de acordo com a metafísica do conhecimento, pode-se saber qual a sua essência e a razão de estarmos no mundo.
Perguntar-se com a finalidade de ter certeza sobre algo ou sobre si mesmo é o mesmo que seguir os preceitos da ciência, a qual busca e resolve eventos metodicamente experimentados e comprovados - com o ser existente de fato. Logo, o perguntar tem de ser preciso e certo, surgindo de um espanto ou admiração por um fato determinado e correto, cujo foco é a inteligência e o sensível, discutidos por Aristóteles.
De encontro a estes pontos, tenta-se saber o que significaria o questionar a si mesmo, algo que vem da incerteza como ponto de partida, como objetivo em si; logo, pode haver o risco de dúvida a qual não interessa ao objeto do desejo que procura a certeza, algo tangível aos seres, a sua sensibilidade e a valorização desta. No entanto, chegar-se-á ao ponto em que existe a dificuldade de se tomar conhecimento pela verdade maior, pois a ciência nos leva a uma infinidade de certezas que estão em um longo progresso e são estados das coisas em nossa mente, causando uma inquietação humana pela angústia de não se alcançar as garantias das coisas.
Logo, surge para nós uma grande questão: “Quem somos nós? Quem sou eu?”. Para essas perguntas há uma resposta universal que se aplica a todos nós, entretanto ainda é um conceito vago: há uma defasagem entre a imagem que é concreta e a inteligência que não é uma faculdade material. O produto desse conhecimento, não sendo material, procura saber qual sua natureza e a sua forma que atuam no intelecto ativo e passivo. Traz-se, assim, a imagem em que o sensível atua com o intuito de fazer vir à tona o ato de entender e de dizer o juízo de valor sobre o objeto de estudo ou entendimento, no caso sobre nós mesmos.
O que realmente importa em sabermos quem somos nós? Que objetivo representa essa pergunta? O ser humano sempre se põe nas seguintes dicotomias do saber: a causa e o efeito, e a matéria e a forma que representam no momento em que o indivíduo procura a realidade do conhecimento legítimo e material. A priori, o que importa é determinar um ser existente com as características que o definem como algo real e único, ou seja, igual aos outros em matéria e diferente em sua própria forma.
Descobrir quem nós somos é tentar achar uma extensão corporal para este mundo e entender a nossa fragilidade na natureza. Neste caso, firmamos uma angústia que nos define mortais e com uma subjetividade similar aos nossos semelhantes. Dirigimo-nos a um questionamento espiritual a fim de desvendar o conhecimento sobre a aflição e a culpa por não descobrir uma definição para o sentido de ser na nossa forma como um modo de percepção e de interpretação sobre o homem.
Assim fez Sócrates por meio do seu método maiêutica: partiu do desconhecido e firmou um conhecimento, um conceito para determinado objeto de estudo e de questionamento, pois a noção das coisas prescinde da matéria. A faculdade da inteligência não é única por possuir diversas operações, cuja finalidade é encontrar o resultado do absoluto que é inteligível em sua cota de saberes em determinada temporalidade e qualquer sociedade em que nos encontremos, pois todos nós somos iguais nas nossas diferenças. Descobrir o que somos não significa nos tornar iguais dentro da nossa espécie, mas pensar nas dessemelhanças encontradas nas diversas formas que as nossas matérias possuem.