Superactivo

Hoje fala-se com alguma preocupação sobre crianças superactivas e a questão que eu ponho é: Será que esse problema é só de agora? Ou será que sempre houve dessas crianças, desde que o mundo é mundo?

Reportando-me à época de quando eu era criança, a única e grande diferença em relação aos dias de hoje, estava na pouca ou nenhuma atenção da parte do adulto, ocupado nos seus afazeres, deixando os filhos um pouco ao deus-dará. Assim nenhuma criança dava nas vistas, todo o dia fora de casa, em correrias e outra tropelias que todos consideravam serem próprias. Os exageros eram curados com umas palmadas quer do pai, quer da mãe, o professor também contribuía generosamente com réguadas, para acalmar as rebeldias e dificuldades na assimilação do ensino. No recreio e fora dele eram os mais velhos, que nos chegavam a roupa ao pêlo, de forma a acalmarmos.

Assim, moídos e cansados, ainda tínhamos sempre alguma tarefa doméstica para executar. À noite, quando por fim adormecíamos era para repor todas essas energias consumidas. Sim, porque no outro dia recomeçava tudo de novo.

Não eramos superactivos, eramos crianças. Umas mais traquinas do que outras e o contrário é que era preocupante, se por sermos mais sossegados recebíamos os degradantes comentários «Não vale nada! Mas que coisa tão mole!».

Hoje em dia nada disso é possível, porém, pouco fazemos para que as nossas crianças consumam o excesso de energia, não lhes impondo disciplina, no tempo gasto nos jogos virtuais. Preferimos não os contrariar dando-lhes tudo que pedem e sem coragem para dizer não, por puro comodismo e crentes que o dinheiro tudo resolve. Somos egoístas, quando não abdicamos dos nossos prazeres pessoais, em prol da educação e formação do futuro adulto, em não os desafiarmos para brincar, praticar um desporto, correr, saltar, com a desculpa de não termos tempo ou que já não temos idade para isso. Assim, hoje, tal como ontem, também os deixamos ao deus-dará (agarrados ao computador e consolas de jogos), e quando extravasa um pouco, queixamo-nos que ele é superactivo, quando por comodismo, nós é que somos moles.

Lorde
Enviado por Lorde em 14/05/2013
Reeditado em 14/05/2013
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