ECAP, CANTO QUE ENCANTA !
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: lamentavelmente, o problema de ÉCO ao ouvir o novo CD dp Grupo de Capoeira ECAP se deveu a um ajuste errado em meu computador, que acrescentava "som de caverna" a todo disco digital que se ouvia. A obra 'Vadiando a Melodia" está absolutamente perfeita no que se refere ao item gravação de som. Peço desculpas aos produtores, técnicos de som e demais envolvidos.
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ECAP, CANTO QUE ENCANTA !
Normalmente eu passaria longe de questões que dizem respeito à Capoeira mas, tendo um irmão em casa -- que ainda se envolve com ela -- me vejo obrigado a partilhar vez ou outra imagens e sons. Vai daí que, numa curva do Destino, "Messiê Polinô" nos enviou da gélida Paris vários CDs de seu belo grupo de Capoeira Angola, ou "Angolá" em bom francês.
O mestre ex-"Guará", hoje "Guaraminfô", explana em seu (suponho) primeiro trabalho um pouco de sua extensa carreira de mais de 20 ANOS em terras napoleônicas e abre o CD com uma faixa de agradecimento a todos os que o ajudaram a trilhar o duro caminho de ensino (e de prática) dessa tri-secular dança-luta.
Discursos ao som de berimbaus são raros em discos/CDs de Capoeira, o mais famoso -- ou mais conhecido, pelo menos -- está num antigo LP dos mestres Natanael e Limão. Geralmente as falas individualizam de tal forma a gravação que o disco inteiro fica como marco de um período ou época e vai perdendo a importância (ou valor) ao longo do Tempo, senhor e algoz da Vida de cada ser vivente.
Mestre "Guará" dá uma rasteira nesse perigo, ao expor seu coração e dirigir a mensagem a cada aluno, os presentes naquele momento mágico e os futuros.
E vamos ao disquinho, CD no jargão moderno. Capa impecável, quase desenhada, papelão envernizado no lugar do plástico frio, o símbolo circular em amarelo vivo no centro de 4 minifotos, diagramação excelente. Em 1994 escrevi --como parte de extenso estudo sobre as origens e os destinos da Capoeira da época -- que símbolos redondos eram um dos vários "problemas" da Capoeira, com excesso de texto dentro deles e imagens pouco visíveis. Infelizmente, continuam raros o Grupos (e Associações) que conseguiram fugir da "mesmice" do circulo, talvez a simbolizar a Roda, "único lugar onde a Capoeira existe realmente", na definição singular de Nestor Capoeira.
"VADIANDO A MELODIA" é uma expressão curiosa e criativa, belo titulo a enfeitar um CD que surpreende até mesmo quem já ouviu 30 ou 50 deles. É comum os Grupos atuais produzirem meia dúzia de CDs, mais como afirmação de poder (?!) do que pretensão de exibir obras consistentes e de valor poético.
Esse CD de estréia do grupo ECAP -Escola de Capoeira Angola de Paris, hoje espraiando-se por outras cidades, foi muito feliz tanto na escolha do repertório -- nem sei se a expressão cabe no mundo do Folclore -- antigo e tradicional, como na forma em que se registrou o evento. 'Vadiando" com prazer e competência por "chulas" e "corridos" de domínio público, já "abandonados" por boa parte dos Grupos modernos, o CD se insere no estreito filão das obras que vieram para ficar.
No registro digital há um côro afinado e atento, um berimbau "gunga" de encher os olhos (e os ouvidos), pandeiro e atabaque que não "atropelam" o ritmo e, como novidade, "segunda voz" em quase todas as respostas... para minha surpresa canto "em terça" numa das faixas e até contracanto, quando a "segunda voz" repete em seguida o canto principal. Enfim, um raro show de musicalidade ímpar !
É de se supor que o técnico de som usou microfones cruzados (cardióides omnidirecionais) acima do Grupo cantante. Isso favorece um registro total, amplo, mas em alguns momentos prejudica a performance do cantor principal que, se movimentando, torna pouco audíveis alguns trechos das faixas. Fora isso, apresentação impecável de todos num CD para ser ouvido mais do que guardado, isolando-se -- com os LPs de mestre Suassuna, o do Grupo ZAMBO do desconhecido Onias "Comenda", os discos dos mestres Natanael e Limão e o do inesquecível Camafeu de Oxóssi -- no estreito universo dos registros que fizeram história no mundo da Capoeiragem. Parabéns,mestre "Guará"! YÊ, camará!
'NATO" AZEVEDO